domingo, 15 de maio de 2016

Mal na foto

Sei que uma imagem vale mais que mil palavras. Só que, de vez em quando, é bom a gente colocar uma legenda na dita-cuja para ver se todo mundo entende o que está diante dos olhos.

O retrato de Michel Temer com seus ministros exige uns caracteres.

Que o presidente ilegítimo não foi eleito com os milhões de votos de homens e mulheres, brancos e negros, héteros e homos, jovens e velhos, pobres e ricos – mas com as dezenas de sins de um parlamento essencialmente masculino, branco, hétero, sessentão e financiado por empresários –, não é difícil perceber.

Ainda assim, ele deve ter achado indispensável sublinhar o fato; caso contrário, não montaria um ministério tão macho alvo, não necessariamente alfa. Surpresa nenhuma. Nem as mais polianas criaturas – exceção feita ao senador Cristovam Buarque – esperavam que uma mulher deixasse o recato de seu lar para ocupar a pasta do Trabalho. Ou que um negro preenchesse a vaga do novo ministro da Educação, cujo partido um dia foi ao Supremo contra as cotas raciais.

Da mesma forma, ninguém (com o mínimo de semancol político) imaginava que qualquer integrante de movimento social fosse dividir a foto da posse com um ministro da Justiça acostumado a ordenar, sem mandado judicial, a entrada de policiais militares em escolas ocupadas por alunos que protestam pela merenda.

E pensar que no Canadá – se me permitem um parágrafo vira-lata – os cargos ministeriais são igualmente divididos entre homens e mulheres; além disso, contam com representantes de diferentes etnias, orientações sexuais e crenças religiosas. Mas esse papo de empoderamento e diversidade é conversa fiada dessas republiquetas bolivarianas esquerdopatas gayzistas.

País com pê de progresso se preocupa mesmo é com a inclusão das maiorias – especialmente as suspeitas de corrupção e enriquecimento ilícito. Só isso para explicar o fato de Temer ter escolhido tantos nomes investigados pela Justiça para compor seu governo, alguns dos quais citados no Tribunal da Santa Operação (vulgo Lava-Jato). A propósito: onde foram panelar os cidadãos de bem indignados com a nomeação de certo ex-presidente para a Casa Civil por ser também um investigado?

Boas línguas me contam que eles andam inebriados com a volta da mesóclise aos discursos oficiais, o que não era ouvido no Planalto há pelo menos treze anos. Dizem que tais seres – habituados a medir o caráter de um político pelo uso (ou não) dos plurais – tiveram orgasmos múltiplos ao escutarem aquele pronome átono bem no meio do verbo.

Só não entendo como esse apreço tão genuíno pela última flor do Lácio pode combinar com a extinção do Ministério da Cultura.

Enfim.

Bastidores do pós-foto: Temer recebeu uma bênção do pastor Silas Malafaia. Quem viu a cena afirma que foi uma espécie de excomunhão do Estado laico. Esse momento de tamanha fé e religiosidade dos nossos governantes me fez lembrar a Santa Ceia; não o afresco original, mas um alternativo, nem de longe cristão.

Com os vendilhões do templo no lugar dos apóstolos e Judas no de Jesus.

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