domingo, 13 de março de 2016

Zombie Walk

Não deve ser coincidência a manifestação a favor do impeachment da Dilma e contra a corrupção (do PT) ter sido marcada para hoje: o mesmo dia em que, 39 anos atrás, estreava na Globo o programa dos Trapalhões. De repente vamos reviver uma experiência que resistiu até meados dos anos noventa – a de um humorístico antes do Fantástico; não tão divertido, claro, quanto o de Didi e companhia.

Verdade que a coreografia do hit “Seja patriota” é uma tentativa louvável de provocar riso – mas não chega perto das lutas e quedas ensaiadas do quarteto.

Que os leitores dispostos a vestir a amarelinha nas próximas horas não me interpretem mal: não há aqui intenção alguma de ridicularizar um movimento democrático. É direito do cidadão sair às ruas para protestar a favor ou contra o que ele quiser – mas é que me soa estranho exigir justiça em marcha patrocinada por partido supostamente envolvido em superfaturamento de merenda escolar.

Ou cujo líder máximo foi citado ao menos três vezes por delatores acusados de fraudes financeiras. A propósito: quando é que ele vai pedir música para o Tadeu Schmidt?

Piadas à parte, o que realmente espero é que as micaretas marcadas para este domingo ocorram em paz. Lugar de quem não concorda com troca de presidente fora do tempo das eleições é em casa, vendo o Campeonato Inglês, o The voice kids ou uma maratona de sua série favorita. Vou aproveitar a folga para colocar em dia os episódios de The walking dead. A Zombie Walk, eu deixo para os mortos-vivos.

Sei que a tentação de botar um lenço vermelho e caminhar por aí contra o vento da indignação seletiva é grande (pelo menos para os mais apaixonados). De fato, tem sido difícil manter as estribeiras sob controle, especialmente diante de conduções coercitivas desnecessárias, pedidos de prisão preventiva despropositados e outras ações policialescas que só confirmam a tese de que a morosidade da Justiça brasileira não é para todos. Nem a morosidade.

Mas a hora é de muita calma. Qualquer tapa na orelha, puxão de cabelo ou mesmo peteleco vai ser motivo mais do que suficiente para legitimar um pedido de intervenção das Forças Armadas – intervenção inclusive já sugerida (por certos colunistas do jornal que um dia apoiou um golpe militar) depois que petistas resolveram ir às ruas demonstrar apoio ao ex-presidente Lula.

É bom lembrar que os bolsonaros de plantão não jogam suas manchetes sensacionalistas na fogueira à toa. Aquecem os ânimos de lado a lado à espera de um incidente que lhes dê o álibi para sufocar – sob o pretexto de defender a ordem – quaisquer manifestações que contrariem seus interesses e os de seus mecenas. São como bushes aguardando o onze de setembro que lhes conceda carta branca para invadir iraques e afeganistões.

De volta à minha busca por semelhanças entre este e outros trezes de março da história, descubro que a data não é aniversário só dos Trapalhões; é também do cineasta José Mojica Marins, o popular Zé do Caixão, mais conhecido por suas fitas de terror. Que isso não seja o presságio de uma cravada de unhas em nossa ainda jovem democracia.

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