domingo, 13 de setembro de 2015

Fora de área

Era um comercial da Gevetê. Ou da Néti. Ou da Iscai. Não lembro. Tentava vender um combo qualquer, desses com telefone, internet, tevê a cabo, pombo-correio on demand, sinal ilimitado de fumaça e tambores wifi. Até aí nada de mais. A não ser o valor do pacote, que prefiro censurar, em respeito ao contracheque da tradicional família brasileira.

Ainda assim, apesar dos números pornográficos exibidos em horário de criança acordada, o anúncio teria passado invisível na minha intranet, se não fosse o ator cantarolando feliz da vida – em meio a um cenário café-da-manhã-com-Doriana – que não tinha mais fins de semana nem feriados, que ficar off-line não era mais uma opção.

Como assim, cara-pálida de tanta selfie e sofá?

Quem decretou que os fins de semana na casa da sogra fofa (ela existe) devem ser substituídos por hora extra no uatizápi da empresa? Que os feriados à beira-mar são perfeitamente dispensáveis se comparados àquele fascinante curso de networking e marketing pessoal via iscaipe? Que ficar off-line para ajudar a filhota com o quebra-cabeças de mil peças do castelo da Elsa é jogar tempo na lixeira?

Os viciados em bytes que me perdoem – mas vida com banda larga de verdade tem domingo com a família, finde naquela pousada em Cabo Frio, pracinha com os filhos, cinema com a esposa, jantar com o maridão, conversa fora com os amigos, passeio com os cachorros, pão de queijo no mercado, futebol na tevê, livro na cabeceira, bicicleta na rua, soneca depois da sobremesa.

Conexão de altíssima intimidade com aquele mundo que existe de se pegar.

Não sei quem teve a ideia de incentivar a humanidade a guardar celular sob o travesseiro, tablet entre o garfo e a faca, notebook na sacola de praia. Certamente um sujeito que não sabia que uma noite inteira de son(h)o é o melhor carregador de bateria; que refeição gostosa é a que a gente compartilha com quem está na mesa; que descanso de tela dos bons é aquele marzão ali na frente.

Pois alguém avise a ele e a seus seguidores que ficar off-line não é fazer logout da realidade, muito menos bloquear indefinidamente as pop-ups do noticiário. É apenas fechar as abas das irrelevâncias e se concentrar no download do que realmente importa – e que em geral está bem ao nosso lado, a um touch de distância.

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