Não
sei se vocês se lembram de Viktor Narvoski, personagem de Tom Hanks que ficava
preso num aeroporto em Nova York, simultaneamente impedido de voltar ao seu
país (que teve as fronteiras fechadas após um golpe de Estado) e de entrar nos
Estados Unidos (já que seu passaporte, em razão do incidente, perdera a
validade). O filme era O terminal, de
Steven Spielberg.
Cá
entre nós, eles não se incomodariam nem um pouco com mais dez horas de voo –
desde que o próximo petit déjeuner tivesse
aqueles croissants capazes de amanteigar o humor do mais parisiense dos garçons.
Aqui uma ressalva no lugar-comum: não cruzei com nenhum monsieur que não fosse ao menos cordial. Valeu a tática de abordá-los
sempre com um bonjour antes do parlez-vous anglais.
Paris
não é mesmo endereço de lugares comuns. Lá, um emaranhado de ferro fascina tanto
quanto os jardins de Monet; as escadarias infinitas de uma Sacré Coeur tiram o
fôlego tanto quanto o sorriso de uma pintura; um muro no Montmartre conquista
tanto quanto um je t’aime na voz da
Piaf; o palco que deusas e ninfas de mármore pisam seduz tanto quanto o do
Moulin Rouge.
Ah!
cidade luz mesmo quando entre nuvens – onde um rio não é um rio, mas um oceano
de cartões-postais; onde uma praça não é uma praça, mas uma página da História;
onde um palácio não é um palácio, mas apenas a ala em que os Luíses guardavam
suas amantes; onde um café não é um café, mas uma Notre Dame para os devotos de
Amélie Poulain; onde uma rua não é uma rua, mas um Louvre a céu aberto.
Ulalá.
Aberto
parece estar meu carrefour de metáforas e hipérboles. Eu sei. Mas o leitor há
de perdoar os excessos deste flâneur de classe econômica. A verdade é que ninguém
atravessa uma Champs-Élysées de sensações impunemente. Alguma coisa os
franceses botam naquelas madeleines para a gente voltar assim, meio Maria
Antonieta depois da Revolução: com a cabeça fora do lugar.
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