domingo, 18 de janeiro de 2015

Sei lá

É tanta gente que sabe de tudo e de todos que fico na dúvida: ou o Q.I. da população mundial superou o teto da meta – inflacionando o mercado de especialistas em assuntos gerais –, ou o bicho-homem botou para funcionar aquele gene da Mãe Dinah que existe em cada um de nós – provocando a maior concentração de cartomantes por metro quadrado desde que o mundo é mundo.

Me causa um frio no fígado toda vez que o senhor Alguém, baseado somente nas estatísticas do seu achômetro, afirma com aquela certeza xiita que o Fulanildo da Silva – porque presidente da empresa xis ou do país ípsilon – sabia-sim de todas as propinas e demais saliências que aconteciam na segunda sala à direita do sexto andar da subsecretaria da secretaria do departamento do ministério das relações interiores.

E me congela a vesícula sempre que esse mesmo senhor Alguém, ungido em tanta fé, denuncia, julga e condena à pena de morte perpétua o primeiro cristo que lhe dá a face.

Mal sabe ele que a senhora Alguém desvia o troco da padaria para os esmaltes; que o Alguém Júnior passa os fins de semana trancado no quarto vestibulando a anatomia do corpo feminino; que a caçula Alguém já foi muito além do primeiro beijo; que sua santa mãezinha gostou tanto daquela camisola com carneiritos, que mal esperou a loja abrir para trocá-la por uma lingerie de oncinha; que o estagiário – e não o sócio – foi o responsável pelo almoço-surpresa no escritório.

Mal sabe ele, aliás, que desfilou todo sorrisos, nesse mesmo almoço-surpresa no escritório, com um fiapo de alface entre o canino e o pré-molar.

Talvez seja ingenuidade minha acreditar que o Fulanildo da Silva não sabia (ou ao menos não suspeitava) das propinas e demais saliências que aconteciam na segunda sala à direita etcétera, etcétera do ministério das relações interiores. Ainda assim, me soa perigoso mãedinaísmo berrar a gigabytes de distância e sem provas – com requintes de caixa alta – que ELE SABIA ou ELE NÃO TINHA COMO NÃO SABER.

Quem é que sabe o que cada um realmente sabe? O Bonner? O Boninho? O Bial?

Só sei que nada sei, já dizia o filósofo. Ninguém nunca sabe que males se apronta, já escrevia o poeta. Nada sei da vida, vivo sem saber, já cantava a musa. Sabe de nada, inocente, já avisava o compadre. E eu – humildemente inspirado em mentes tão sabichonas – tomo a liberdade de encerrar aqui tanta sabedoria: cuidado e canja não fazem mal a ninguém. Nem ao senhor Alguém.

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