domingo, 11 de janeiro de 2015

Reconciliações

Primeiro de janeiro que nada: o ano novo começou mês passado, no último dia 17, quando Barack Obama e Raúl Castro finalmente tiraram a birra do gancho e trocaram duas ou três palavras por telefone, comprometendo-se a derreter um dos derradeiros icebergs da Guerra Fria e restabelecer as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, interrompidas havia mais de meio século.

Bem que essa notícia podia derreter também alguns coraçõezitos e inspirar outras reaproximações em 2015: entre israelenses e palestinos, brasileiros e argentinos, nosso futebol e o futebol, pais e filhos que não cruzam a mesma rua, certos políticos e a vergonha na fuça, alguns cidadãos e os livros de História, você e o vizinho.

Ah se eu tivesse o poderio de americanos e aliados. Erguia logo um hiperultrashopping na Faixa de Gaza com uma megapraça de alimentação – religiosamente distribuída entre judeus e árabes, que eu não sou kamikaze. Quem sabe assim, entre chalás e quibes, rugelás e esfirras, o ramadã de paz e amor não acabasse num pessach de abraços.

Abraços que até nossos hermanos merecem, ainda que insistam na piada de que Maradona foi melhor que Pelé. Sugiro não contrariá-los. Vai que é doença.

Falando em doença, que vírus terá enfraquecido o sistema imunológico do nosso futebol? O do amadorismo endêmico? O do calendário morbidamente obeso? O da volantização aguda do meio-campo? Especialistas garantem que o tratamento indicado passa por internação imediata no spa da profissionalização, calendário balanceado e dieta baseada em formação de meias criativos. Assino embaixo.

Assinaria também um decreto que proibisse pais e filhos de acenderem sinais vermelhos entre si. Sob pena de multa impagável e mil pontos na consciência. Permitido mesmo só o verde. Siga em frente, que sou sua faixa de segurança – deveria dizer o pai para o filho, o filho para o pai. Família, embora estrada às vezes esburacada, com uma ou outra lombada no caminho, é sempre via de mão dupla.

Eu digo mão dupla e a malufaria já entende mão grande. Aí não tem saída. Reaproximação, só se for entre os dois pulsos gatunos – luxuosamente adornados com aqueles braceletes prateados que viraram moda em Brasília. O que eu mais gosto neles é a correntinha ligando as argolas. Hype total.

Outra tendência – essa de péssimo gosto – é a tentativa de uns e outros de reviver o verde-oliva. Coisa mais demodê. Aos que apostam nessa cor para os próximos verões, recomendo pegar urgentemente o primeiro DeLorean movido a plutônio e voltar aos porões dos anos sessenta e setenta. Se não achar algum disponível na praça, uma visitinha à biblioteca mais próxima já está valendo.

Agora você: vai continuar nessa de bipolarização com o vizinho por um desentupidor de pia que foi e não voltou? Relaxe. Releve. Restabeleça as relações. O objeto em questão não merece tanta corrida armamentista. Do jeito que vossa excelência tem valorizado esse embargo, até parece que seu roto-rooter de estimação foi parar em Guantánamo.

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