domingo, 9 de novembro de 2014

Notas saltimbancas

Ói nós aqui
Respeitável público acima dos trinta anos: não morra de inveja; mas faça a gentileza de ter ao menos uma quedinha de pressão. Este que vos rabisca semanalmente deu uma pausa nas cotidianices para reverenciar de perto, pertíssimo – a coisa de cinco metros – Didi, Dedé e os Saltimbancos Trapalhões, em cartaz na Cidade das Artes, aqui no Rio.

Uma pirueta
A peça, fabuloso xanadu produzido por Charles Möeller e Claudio Botelho, é de fazer o coração mais molenga dar ultrapiruetas. A primeira já acontece no iniciozinho, quando a silhueta do icônico personagem de Renato Aragão surge na cortina. Sobe o véu, some a (sombra de) dúvida. É ele mesmo: Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo.

Muitas piruetas
Inúmeras piruetas dignas de bravo (bravo!) se espalham pelas quase duas horas de espetáculo, como a saudosa interação entre Didi e Dedé, sempre escadamente generoso ao “sofrer” as piadas do amigo; as divertidas interpretações de Adriana Garambone para a vilã Tigrana e de Roberto Guilherme para o Sargento Pincel, digo, o Barão; o figurino coloridamente retirado de uma caixa de bonecas; o (sonho-de-)cenário grandiosamente circense, com destaque para os leões gigantes; além, claro, das polipiruetas propriamente ditas, encenadas por acrobatas de carne, osso e borracha.

Superpirueta
Talvez a maior delas ocorra quando Didi (ou Renato, sei lá) cita os stents que teve de colocar recentemente para impedir o entupimento de uma artéria. Ô da poltrona: como não tirar um ou dois psits dos olhos ao se dar conta de que se está diante de um senhor de quase oitenta anos – ídolo na tevê, campeão de bilheteria no cinema – estreando no teatro, (re)nascendo portanto num novo picadeiro?

O grande malandro da praça
É impressão minha ou as canções clássicas (re)criadas por Chico Buarque para as versões brasileiras do musical de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov (a dos palcos e a das telas) tomam regularmente o elixir da juventude? Mais que oportuno revisitá-las agora, neste momento (ainda) eleitoral, já que faz pouquíssimo tempo que Chico, um de nossos maiores artistas, foi crucificado nas redes sociais apenas por ter declarado voto em Dilma – a ponto de certo colunista promover até campanha de boicote ao poeta, suposto representante de uma tal “esquerda caviar”.

Os versos buarqueanos dão sempre um rabo de arraia e inteligência nesses tubarões da imbecilidade.

O pessoal delira
Momento coxinha da noite: a piadinha de Didi “mais vale um feio na mão do que dois bonitos se beijando” foi uma das mais aplaudidas pela plateia, composta em sua maioria por famílias héteras da classe média carioca.

Pano rápido.

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