domingo, 16 de novembro de 2014

Fabiofobias

Deu uma vontade inexplicável de listar meus medos: os eternos, os temporários, os sérios, os bobinhos, os que me fazem parar, os que me fazem seguir. Alguns são tão óbvios e me causam tamanho pavor – o medo da morte, por exemplo – que não merecem meia cova. É melhor fingir que não existem; se por acaso derem o ar da desgraça, o jeito é não ter medo – de fugir. É o que faço. Corro pra bem longe.

Só não quero ficar longe de quem gosto. Nem pensar. A distância é outro medo eterno e sério. Daqueles que só fazem uma crônica mais cinzenta do que deveria. Mais colorido lembrar o medo da comida japonesa, já superado com os devidos sushis e sashimis; da cabeleira selvagem do Caetano tropicalista, felizmente há muito substituída por fios grisalhos e comportados, bem menos assustadores (ou não); do Baixo Astral, o vilãozão interpretado por Guilherme Karan num filme da Xuxa.

Também tenho medo de passar a vida inteira e não rabiscar uma obra-prima, mesmo que prima em terceiro ou quarto grau: pode ser literatura, cinema, tevê. Pode ter 140 caracteres. Pode ser um videozinho mambembe feito com a câmera do celular, um flagrante como o daquela japinha descobrindo a chuva. Se tiver poesia, já está valendo – valendo, quem sabe, um sofá do Jô.

Os sonhos ridículos, deixemos de lado. Porque o assunto aqui são os medos. Meu medo cotidianíssimo dos livros com erro na orelha, de gente que não dá bom dia a porteiro, do juiz que vai apitar o próximo jogo do Vasco, do metrô sardinhamente cheio na hora do rush. Claro, tenho também aqueles medos mais coletivos, compartilhados com boa parte da humanidade: o medo dos políticos que confundem o público com a privada e guardam dinheiro na cueca; dos binladens que ameaçam a paz mundial; das catástrofes provocadas pelo aquecimento global; dos figurinos da Lady Gaga.

Medo de comunista? Não. Esse eu deixo pro Lobão e a pauliceia desvairada dos Jardins.

Mas verdade seja dita: nenhum desses medos é tão forte quanto o horror que tenho das lagartixas tamanho GG (Godzilla ao quadrado) que fazem da varanda aqui de casa seu Parque dos Dinossauros. Só de pensar naquelas black blocs frias e rastejantes saindo de seus covis no cair da noite pra vandalizar meus nervos, já sobe aquele arrepio.

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