domingo, 15 de novembro de 2015

De portas abertas

Quantas vezes não vimos chefes de Estado virem a público, depois de um atentado como o que ocorreu na última sexta-feira em Paris, para anunciar fechamento de fronteiras, controle mais rígido da imigração, aumento de gastos militares, ataques preventivos a possíveis células terroristas nos confins do mundo, restrição de direitos civis (como à privacidade) – tudo em nome da tal guerra contra o terror?

O presidente francês François Hollande não fugiu à regra e prometeu uma resposta implacável aos extremistas da vez. Ponto para ele, segundo os analistas políticos. Diz o manual de boas maneiras do grande estadista que o representante-mor da nação – mais do que demonstrar equilíbrio e firmeza diante do caos – deve assegurar aos seus compatriotas uma reação à altura.

Eles precisariam disso para se sentir de fato protegidos.

Uma reação à altura. Uma reação à altura. Repito para mim mesmo a sentença e só consigo enxergar nela uma sentença: de morte. Quem realmente precisa de mais um soldado, de mais um fuzil, de mais um tanque, de mais um caça, de mais um míssil, de mais um drone a milhares de quilômetros matando ora terroristas, ora inocentes – ora outros inocentes – para se sentir mais protegido?

Até agora a chamada cruzada antiterror – da qual ouço falar desde os tempos em que o Rambo fuzilava figurantes em nome da liberdade – não trouxe a paz tão prometida; trouxe, sim, periódicos onzes de setembro para a humanidade. Do atentado em Nova York para cá, cidades como Beirute, Londres, Madri, Mumbai, Tel Aviv, entre tantas outras, já tiveram seus quinze minutos de sangue.

Sem contar as que convivem diariamente com a violência de grupos extremistas, em geral africanas e asiáticas, e que não despertam a mesma comoção mundial.

Um episódio que sempre lembro nessas horas é a reação de Israel – uma reação à altura, registre-se – ao assassinato de atletas seus por terroristas árabes durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. O governo israelense convocou seu serviço secreto (o Mossad) e deu a ele a missão de matar os responsáveis pelo crime. Desnecessário dizer que a retaliação promovida há quase meio século não resolveu os conflitos gravíssimos que ainda vitimam palestinos e judeus.

Por isso, o discurso protocolar de Hollande – provavelmente a ser seguido por uma contraofensiva bélica que só há de interessar aos fabricantes de armas – não me faz sentir nem um pouco protegido, e menos ainda esperançoso de que essa espiral aparentemente infinita de violência acabe um dia. Ele tão somente mantém as portas abertas para novas explosões de barbárie.

Quem dera o presidente francês fechasse de uma vez aquele manual e se inspirasse no exemplo de seus concidadãos, que (numa iniciativa que ficou conhecida nas redes sociais como #PorteOuverte) abriram suas casas para abrigar as pessoas que estavam nas ruas durante os atentados e precisavam de um lugar seguro. Uma atitude não só simpática dos parisienses – mas sobretudo corajosa.

Especialmente por ter sido tomada numa noite em que o medo recomendava o contrário – e o terror mais do que flanava por seus queridos bulevares.

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