domingo, 8 de março de 2015

O segundo sol

Pare o que estiver fazendo e corra até o cinema para ver Cássia, documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle. Não há maneira melhor de comemorar o dia, a semana, o calendário internacional da mulher. Leve a namorada, esposa, amante, mãe, avó, tia. Leve o namorado, marido, amante, pai, avô, tio. Leve as amigas e os amigos. Leve o rex e o louro. Leve, sobretudo, o coração.

Não se contente com o que eu escrever aqui. Vão ser palavras apenas: pequenas.

Bem menores que as de Maria Eugênia (esposa da cantora por catorze anos), Zélia Duncan, Nando Reis, Oswaldo Montenegro e companhia ilimitada, que falam de sua relação com a garotinha que não esperou o ônibus e foi à vida; a poeta que, à sua maneira, aprendeu a amar; a intérprete que foi de Nirvana a Chico; a muié-macho que de repente surgiu de vestido – grávida – e perturbou o sono dos rotuleiros de plantão.

A chama que ardia delicada nos bastidores e explodia vulcânica no palco.

Alternando com equilíbrio depoimentos, inclusive da própria Cássia, e imagens do início de sua carreira em Brasília, do Rock in Rio, do acústico gravado na MTV (entre outras), o filme realinha a órbita de sua protagonista ao acompanhar não só a artista capaz de demolir os fascismos do lugar-comum, mas também o ser humano sensível ao vento de cada palavra.

Surpresa doce saber que a decisão de suavizar a voz roqueira foi tomada depois de um pedido do filho ainda pequeno: você grita, mãe. Quem canta mesmo é a Marisa Monte.

Surpresa maior são os caminhos percorridos pelos versos de “Malandragem” até encontrarem a garganta certa. Num dos momentos mais divertidos do longa, Angela Ro Ro conta por que recusou o convite de Cazuza e Frejat para interpretar aquele que viria a ser o maior hit de Cássia: não era para mim esse negócio de garotinha cansada com suas meias três-quartos.

Nenhuma surpresa, no entanto, ver aquela revista expelir na capa que a cantora morrera em razão de uma overdose de drogas, bebidas e remédios. Laudos periciais do Instituto Médico Legal provariam, após uma necropsia, que a causa da morte tinha sido um repentino infarto do miocárdio. (Aqui o roteiro não podia ser mais atual e esclarecedor, ao deixar com os seios de fora o sensacionalismo carniceiro de parte da mídia.)

Mas chega de revelar surpresas. Já fiz o leitor perder segundos preciosos. Não espere mais o segundo sol chegar. Ele chegou faz tempo e está num cinema perto de você.

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