domingo, 10 de agosto de 2014

When I’m sixty-four

Dia dos Pais + canção dos Beatles + meu velho em plena forma após seis décadas e quatro carnavais = a mistura certa na hora certa. Era como a passagem do cometa Halley, o nosso Vasco novamente na final da Libertadores, Maluf reconhecendo falcatrua em rede nacional, eu ou qualquer criatura no mundo enchendo – por livre, espontâneo e irrefreável desejo – aquela garrafa d’água vazia que não sai da geladeira: eu não podia perder a chance. Escrevia agora ou só na próxima edição de mim mesmo.

Como não acredito em reedição ou em vida após a última página, o negócio era rabiscar uma ou duas palavras para o Seu José (o meu José) hoje. Já. O leitor não se preocupe. Não vou derramar as pieguices de costume, embora ele as mereça em dobro. Nem vou embrulhar gravatas, meias e cuecas. Ele merece mais do que os clichês. Também não vou lhe dar aquele porta-charutos de trocentos reais. Ele não fuma. E vale mais do que os presentes mais caros sugeridos pela Revista dO Globo.

Vou só aproveitar o alinhamento de planetas e ideias para dizer que, ao chegar ao famigerado sixty-four (se eu chegar lá), espero ter a mesma disposição que lhe sobra para bater os parques de Orlando, a ponto de deixar o próprio Mickey nocauteado. (Olha eu de novo viajando para as férias na Disney. Me desculpem, mas é mais forte do que minha desvontade de encher aquela garrafa vazia. Que, aliás, continua na geladeira.

Foco, Fábio; foco: Dia dos Pais + canção dos Beatles + meu velho em plena forma após seis décadas e quatro carnavais.)

Vamos tentar outra vez: ao soprar a sexagésima quarta velinha, pai, desejo ter o mesmo fôlego que você esbanja ao ir e vir da feira em sua bicicleta; a mesma energia que você transpira ao torcer pela Seleção; a mesma ginga com o imposto de renda que você demonstra ao fazer o seu, o meu, o do mano e até o daquele amigo que adora aparecer na última hora cheio de recibos e dúvidas. Espero, enfim e principalmente, revelar a mesma generosidade que você não poupa ao estar sempre com a chave na ignição, pronto para atender a um chamado urgente de quem quer que seja.

Da esposa que precisa de carona até o shopping; do filho que precisa de carona até o trabalho; do outro filho que precisa de carona até o curso de inglês; da sobrinha que precisa de carona até a festa; do cunhado que precisa de carona até o médico; da sogra que precisa de carona até a rodoviária (essa você dá com um gostinho extra, que eu sei); do amigo que precisa de carona até o aeroporto; de certo pastor alemão que não precisava de carona – e só queria mesmo dar uma voltinha de carro.

Sorte infinita a nossa: que pegamos carona no busão que você leva no peito.

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