domingo, 2 de fevereiro de 2014

La cucaracha

Até pensamos em chamar o zelador para fazer o serviço e sumir com o corpo. Mas desistimos. Não tínhamos esse tempo todo. A inimiga era rápida, arisca demais. Logo encontraria abrigo num cantinho inexpugnável e o transformaria em fortaleza – quiçá maternidade, creche. Precisávamos agir imediatamente. Caso contrário, correríamos o risco de perdê-la de vista para sempre.

Fernanda a monitorava enquanto eu preparava a artilharia: cano um, cano dois, dedo no gatilho. Tá se mexendo! Tô vendo as anteninhas! Vem! Liga! De repente a bicha arrancou pro banheiro – foi aí que eu disparei o trabuco. Potência máxima. Off. Pegou? Pegou? Silêncio sob a pia. Me abaixei com cuidado. Nem sinal dela. Teria ido pro saco ou se escondido na fresta entre o armário e a parede?

Certeza, certeza, só se abríssemos o Eugênio – nosso estimado aspirador de pó – e checássemos seu estômago. Não aqui em casa. Vai que a monstra está viva. É melhor na lixeira. Tem razão. Deixamos o apê na ponta dos pés, rezando uma novena para que nenhum vizinho surgisse no corredor e presenciasse aquela cena bizarra: um casal de marmanjos em operação de guerra contra uma... barata.

Incrível como a vida para e toda prioridade fica do tamanho de um inseto quando nos defrontamos com esses filhotes das trevas. Bem que eles podiam ser como os vampiros: só entrarem em nossa humilde residência se convidados e fugirem voando de qualquer alhozinho. Segundo o Tio Google, eucalipto resolve o problema com as cascudas. Será? Na dúvida, começamos a trocar xampu, condicionador, sabonete, hidratante, perfume, desodorante, creme facial por Pinho Sol e afins.

Mas voltando aos fatos: com o auxílio de uma lanterna, felizmente conseguimos localizar o cadáver, semienterrado entre cotões e outras sujices. Argh? Argh nada. Foi uma das mais belas visões que já tivemos. A visão do alívio. Do ufa-vamos-dormir-em-paz-esta-noite-sem-precisar-de-rivotril. Por fim, lacramos o saco e o mandamos lixeira abaixo – para o Hades de onde aquela mascote do Tinhoso jamais deveria ter saído. Hasta la vista, baby.

De preferência, hasta nunca mais. Pois Fernanda e eu não temos a menorzíssima intenção de travar novos contatos imediatos com criaturas tão do mal – pelo menos nas próximas vinte encarnações. Chega. Já deu. Fecha a conta e passa o Raid. Que esse negócio de barata sai caro demais pro coração.

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