domingo, 24 de março de 2013

Oh, happy days

Aleluia. A Semana Santa é logo ali. Como de hábito e batina, estou prontinho pro jejum: de hora pra acordar, de hora pra bater o ponto, de (uma) hora pro almoço, de horas no trânsito pra chegar em casa, de hora pra dormir. A noite é uma criança sem tique-taques catequistas; o dia e a tarde, também. Um trio de ateuzinhos descalços correndo pela sacristia.

Pena que nem tudo é perfeito. Longe disso. A Semana Santa não faz jus ao nome, nem ao sobrenome. Pensemos bem: como é que algo que começa na quinta para alguns (na sexta para o resto) e termina no domingo para todos pode ser chamado de Semana? É no máximo um Feriadão – cá entre nós, Beato.

Que no meu Vaticano só ganharia canonização se iniciasse na segunda. Aí sim poderíamos encher a boca e o calendário: Semana Santa.

Falando em encher o calendário, acaba de me ocorrer o quão negligente – injusto até – ele tem sido com a pluralidade religiosa da nossa outrora Terra de Santa Cruz. A ilustríssima folhinha, senhora de todas as datas, só nos dá refresco nos dias cristãos: Páscoa, Corpus Christi, Nossa Senhora Aparecida, Finados, Natal.

E os judeus? Os muçulmanos? Os umbandistas? Os espíritas? Os budistas? Os wiccas? Os druidas? Os trekkers? Os jedis? Os corintianos? Como é que ficam?

País que se prezasse – e que não desejasse arder no mármore do inferno por toda a eternidade – não deveria adotar uma só religião; muito menos (pecado dos pecados) batizá-la de oficial. Deveria, sim, acender vela para todos os credos, comungar com suas respectivas festas e aderir a seus feriados. Sem preconceito. Sem receio de que o Coisa Ruim abrisse novas filiais de sua oficina. Atitude mais democrática e digna do Paraíso não haveria.

Ou não seria bom demais emendar o dia da padroeira com o Pessach e o fim do Ramadan? Juntar as oferendas a Iemanjá aos doces e travessuras do Halloween? Enforcar aquela sexta entre o Mês do Orgulho Jedi e a Quinzena de Adoração ao Doutor Sócrates?

Sonhar e rezar não custam nada – nem o dízimo nosso de cada missa. Mas por ora, enquanto o Feriado Final não nos arrebata pro outro mundo, a gente levanta as mãos pro céu pra agradecer as míseras folguinhas que tem.

As mãos pro céu e as pernas pro ar.

4 comentários:

  1. Concordo com vc que a semana santa não condis com o nome que tem porque as pessoas pensam que é só feriado. Mas um feriado para refletir sobre as coisas boas e ruins.

    http://rodrigobandasoficial.blogspot.com.br/

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  2. O problema é que as pessoas não respeitam muito a tradição e acham que é apenas mais um feriado no ano.
    Muitos desconhecem o simbolismo e a história.

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  3. Isso é verdade, mas se assim fosse... os dias úteis seriam feriados e nos feriados trabalharíamos. Mas pense bem, é assim no mundo todo, as datas comemorativas religiosas que são adotadas como feriados pelo estado, são as que pertencem a maioria daqueles que construíram a nação. É assim aqui, é assim no oriente! é assim no resto do mundo. Em muitos países, natal e páscoa são outro dia qualquer.

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  4. muitas coisas acabam perdendo significado com o tempo não acontece apenas com datas comemorativas né.

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