domingo, 3 de fevereiro de 2013

Hasta la vista, baby

A convivência diária revela muitas peculiaridades das pessoas. Algumas inimagináveis. De deixar cabelos em pé, línguas enroladas, olhos virados, estômagos revirados. De fazer a máxima “de perto ninguém é normal” parecer apenas a ponta de um iceberg gigante – maior que a língua do Einstein naquela célebre fotografia.

Não estou falando disso à toa: eu casei com uma assassina. Não uma reles matadora de figurantes de papelão, como um Jason, um Freddy, um Jigsaw. Mas uma exterminadora de último tipo, com selinho da Skynet e tudo. Das mais frias e sanguinolentas. Incapaz de passar por um bebê japonês – bem bochechudo, de preferência – sem dizer “hasta la vista”.

Bastaram poucos meses de casamento para eu perceber que acordava e dormia todos os dias ao lado de uma serial killer – de coisas fofas. Um monstro que não pode ver cãozinho, gatinho, pandinha ou angry bird que já comete homicídio por amassamento. É isso. Ela simplesmente amassa suas vítimas. Sem dó nem piedade. Sem um vestígio de correção política.

Semana passada minha vizinha do 401 – uma senhorinha com ares e óculos de Dona Benta – sumiu misteriosamente. Ficou desaparecida até ontem. Foi encontrada numa pracinha a duas quadras daqui, jogada sob uma árvore, toda... amassada. A-mas-sa-da. Quem disse que tive coragem de comentar o caso com a minha mulher? Me fingi de morto.

Aliás, é o que venho fazendo desde que descobri esse prazer mórbido entre seus passatempos favoritos. No meu manual de sobrevivência, não há mais espaço para bombons, flores, poesia, quiçá um versinho de gentileza. Pelo menos até eu encontrar um tarja-preta que controle seu sádico desejo de esmagar qualquer criatura que lembre almofada balofa, bichinho de pelúcia ou a Mafalda.

Por ora, é só bom dia, boa tarde, boa noite. Na maior formalidade possível. Com direito a cerimônia e distância mínima. Afinal de contas, sou jovem demais para morrer.

E não tenho a menor vocação para porquinho-da-índia.

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