domingo, 7 de outubro de 2012

O sofá de casa

Levei um enorme susto quando soube que a Hebe tinha morrido. No primeiríssimo instante, não acreditei. Não quis acreditar. Não pude acreditar. Gente como ela não morre. Bebe da fonte da juventude, vive pra sempre, tem o quê da eternidade  no máximo fica encantada, já bem dizia o sábio Guimarães Rosa. Ou é congelada para um dia ressuscitar linda de viver.

Mas que nada. A Hebe tinha morrido mesmo. A notícia estava em todos os canais, em todas as rádios, em todos os sites, em todas as manchetes. Estava no choro da senhorinha anônima, no depoimento do artista famoso, na explicação do médico, na homenagem dos amigos. Estava na imagem de arquivo. No silêncio do Roberto. No último selinho do Silvio.

Não era mais uma gracinha daquela pessoinha que bissextamente cantou a música popular, que entrevistou mil celebridades, que beijou outras mil, que cometeu gafes deliciosas, que reclamou do governo, que amou sua plateia, que viveu a vida sem a menor vergonha de ser feliz  que, de tão alegre, tão intensamente viva, gargalhava até em velório.

Cá entre nós, não me surpreenderia se ela fosse vista lá no céu, ao lado da amiga Nair Bello, se segurando para não rir de tanta pompa e circunstância em torno de sua morte.

Hebe ostentava felicidade. E, talvez por isso, provavelmente por isso, não surpreendeu ninguém quando encarou com sorriso e salto alto a doença que a vitimou. Quando enfrentou seus últimos quinze minutos sob os holofotes com o brilho das joias mais caras, com o luxo dos vestidos mais extravagantes, com o vermelho do batom mais forte.

Como disse, levei um enorme susto quando soube que a Hebe tinha morrido. No primeiríssimo instante, não acreditei. Não quis. Não pude. No segundo, entretanto, me dei conta do que havia acontecido. Nem precisei ligar a tevê, o rádio ou o computador. Bastou abrir a porta de casa e ver o sofá da sala  da sala de todo brasileiro – em silêncio.

Inacreditavelmente vazio.

4 comentários:

  1. Foi uma pena o Brasil ter perdido um grande ícone da televisão que era e ainda é a Hebe, morta em carne, mas viva nas nossas lembranças.

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  2. A Tv precisa de mais mulheres como ela, originais

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  3. Cara quando silvio santos morrer o brasil para de vez

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