Faltou leite materno na dieta dos nossos ancestrais.
Só isso para explicar tanto marmanjo – e marmanja –
crente, crente de que saia justa e decote são convites para o estupro. Só isso
para explicar tanta milícia maior de idade incomodadinha com casais gays que trocam
bitocas em público. Só isso para explicar tanto tio e tanta vó saudosos de um
tempo em que racismo existia apenas na fazenda do Leôncio, e golpe era só o nome feio que se dava à Revolução.
Papais
e mamães: o Dia das Crianças está quase aí e é preciso tomar mil cuidados para
que os bebezuscos de hoje não se tornem os bolsonarinhos de amanhã.

Uma
primeira dica? Nada de cair na tentação de botar um smartphone nas mãos de seu
recém-nascido e correr para o Netflix. O pimpolho mal chegou ao mundo; ele precisa
é de carinho, cheiro, cócegas – conexões que nem o mais poderoso wi-fi vai
proporcionar. Contato físico, já diziam até os manuais de chocadeira, ajuda a
estabelecer e fortalecer vínculos, além de contribuir para o desenvolvimento dos
neurônios.
Esses
que andam quase tão empoeirados quanto aqueles livros na estante.
Já
passou da hora de apresentar a seu rebento a Dona Benta, o Cebolinha, a Miss
Marple, o Harry, a Mafalda, o Frodo, a Alice, o Pan. Lembro até hoje de mâmi me
apresentando o Zezé – menino que conversava com um pé de laranja lima. Desde
então, sei que é possível escutar não só as pessoas, mas também as árvores, os
ventos, as chuvas, os travesseiros, as janelas, os abraços, as saudades, os
diferentes e as diferenças.
Falando
em diferentes e diferenças, que tal aproveitar o feriado e levar o pequeno
príncipe e a cinderelinha até aquela praça, aquela praia frequentada por
amiguitos que não moram no mesmo condomínio encantado? que não foram à Disney
dezesseis vezes? que nunca ouviram falar em aula de jazz e cheesecake de
morango? Sair da bolha oxigena os conceitos e asfixia os preconceitos.
Outro
ótimo passeio é a boa e velha loja de brinquedos. Mas nem pensar em levantar um
muro entre o corredor das bolas e o das bonecas, entre a seção dos carrinhos e
a das cozinhas. Ninguém aqui vai querer que a Nanda deixe de virar a nova Marta
ou o novo Senna – e o Fabinho, um pai-pra-toda-obra ou o novo Masterchef Brasil
– só porque alguém etiquetou os passatempos infantis.
Um
dos mais adequados a crianças de zero e cem anos – diz estudo – é a dança das
cadeiras. Não aquela em que eu continuava o balé mesmo após a música parar. Mas
aquela em que o guri se coloca no lugar da colega excluída pela turma porque é
gordinha; do vô que entra no busão e não encontra assento vazio; do garoto que
mora na rua e não tem nem uma cama para dormir; da professora que tenta falar,
perde a voz e ainda assim não é ouvida pelos alunos. O Ministério da Saúde adverte:
olhar com os olhos do outro reduz a incidência de cataratas.
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