domingo, 15 de fevereiro de 2015

Um porre de felicidade

É só entrar nas redes sociais ou nas páginas especializadas em “entretenimento”, principalmente aquelas cuja matéria-prima costumam ser decotes, bumbuns e demais instagrans de celebridades, para constatar o quanto todos os seres (humanos ou não) são superultramegafelizes – o que, por contraste, apenas confirma a mediocridade da sua vidinha cocrete-com-guaraviton.

Quase impossível não se deixar afogar pelas fotos sem filtro da Dani em Noronha, pelo close indecente no petit gâteau do Bruninho, pelo selfie só-sorrisos da galera do trabalho no níver do chefe, pela primeira aula de stand up paddle da tia Mariquita, pelas férias da Anitta Popozuda no Valle Nevado, pelo canil de um milhão de dólares que o craque Reymar comprou para o seu pastor alemão.

De repente o mundo virou uma pool party e só você não recebeu convite para um mergulho.

Nessa Disneylândia elevada à enésima potência, inundada de tanta beleza e prosperidade, muitas vezes é ofensa grave compartilhar uma olheira que seja diante do sol lindo – e artificial – que brilha lá fora. Logo surgem os tataranetos da Dona Pollyanna (não sei se com todos esses éles e enes) vociferando que você deveria ter dormido mais cedo ou caprichado no corretivo.

Ai então da sua pessoa se exibir um bocejo de fadiga ao encarar, por exemplo, aquele ônibus cheio às sete da matina. A resposta vem mais rápido que o motorista do 607: tirasse carteira ou comprasse uma bike. E os doutores da alegria não param por aí. Saco cheio do escritório? Fizesse shiatsu ou pedisse demissão. Restaurante caro? Levasse marmita ou começasse uma dieta. Calorão? Instalasse um ar novo ou mudasse para a Sibéria. Indignado com o aumento da luz? Votasse na oposição ou escovasse os dentes no escuro.

Só não venha chorar suas carambolas na minha timeline. Para isso existe psiquiatra.

Está aí uma saída possível. Quem sabe um profissional ajudasse você a verbalizar em poucos caracteres – os alegrinhos não curtem textos com mais de dois parágrafos – que seu salário é a conta do chá, e ele não é um Earl Grey; que seu bunker dista do escritório umas três São Silvestres; que shiatsu e demissão não revelam os números da megassena; que marmita, só se a mamãe de quem deu a sugestão preparar; que comida sem glúten e lactose é ainda mais cara que restaurante; que o ar novo não cobre toda a extensão da Avenida Brasil; que a Sibéria não tem biscoito Globo nem praia; que onde a oposição ganhou foi a conta d’água que aumentou – e nem escovar os dentes no escuro dá mais.

De resto é se dar alta e sair para tomar uns goles de felicidade. Sempre com moderação.

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