domingo, 19 de janeiro de 2014

Rolé da ralé

Sou do tempo em que dar um rolé podia acabar em beijo apaixonado, promessa de namoro ou, na pior das hipóteses, casamento marcado. Sorte que às vezes a tragédia não era tão grega e só se levava um toquinho básico. Nada demais. Curava-se o fora com outro rolé, na companhia dos amigos e de algumas biritas.

Só que o mundo não é mais o mesmo. O clima esquentou no planetinha que em priscas eras se julgou plano, um belo dia se descobriu tão redondo quanto uma abóbora e parece, enfim, ter encontrado sua verdadeira forma: a de um octógono. Qualquer discussão – até as que costumavam acabar em pizza com a galera – virou desculpa prum MMAzinho (antes, durante e) depois do expediente.

A batalha da vez são os chamados rolezinhos, encontros marcados por jovens via internet para dar uma voltinha nos shoppings.

De um lado do ringue, há os que consideram o “passeio” digno de aspas, cassetetes, balas de borracha e até prisão perpétua em penitenciária maranhense. O tal rolezinho seria, na verdade, pretexto para promover arrastões em centros comerciais. Mais ou menos o que os centros comerciais fazem conosco, consumidores indefesos, no Natal, no Dia das Mães ou dos Namorados.

Advogados – especialmente aqueles cujas senhoras não sabem se foram entrevistadas mais vezes pelo Amaury Jr. ou pelo Pitanguy – argumentam que os shoppings têm todo o direito de impedir a entrada de quem não pretende usar o Bolsa Família para fazer compras, almoçar ou ir ao cinema; de quem deseja, além disso, provocar tumulto e, consequentemente, causar prejuízo a lojistas e afins.

Pobre de mim então: que passo a anos-luz de qualquer vitrine já avisando que “só tô dando uma olhadinha”; que frequento o Village Mall e outros redutos cinco estrelas apenas para diminuir a sensação térmica, botar o sono em dia nas poltronas assinadas e tirar uns braggies com a Louis Vuitton ao fundo. Eu estava correndo o sério risco de ir em cana por apropriação indébita e nem sabia.

Ainda bem que do outro lado do ringue estão os sociólogos – sobretudo aqueles cujas senhoras não se tornaram primeiras-damas nem de repartição pública – e demais candidatos a Mandela. Só eles para formar um black bloc capaz de defender o direito de ir e vir da classe zê e vandalizar com a estigmatização dos pobres, a discriminação dos pretos e o apartheid do churrasquinho de gato.

Vocês leram direito: apartheid do churrasquinho de gato. Já ouvi otoridade pensando em combater não só o rolezinho, como também os ambulantes que trabalham no entorno dos Iguatemis mais sofisticados. A razão? Eles estariam mordiscando uma fatia de seus clientes premium, principalmente os mais refinados, sempre interessados em especiarias exóticas.

Agora imaginem o que seria de nós, reles assalariados, sem aquela iguaria servida a preço justo nos arredores dos melhores shoppings da cidade? Cá entre nós: se, para comer ou beber, dependêssemos dos valores cobrados por um saquinho de pipoca ou uma garrafinha d’água nas praças de alimentação espalhadas pelo país, estaríamos mais perdidos que o Caco Antibes numa floresta de cajuzinhos.

Falando em comes e bebes, está batendo uma fome... Quer saber? Vou chamar a rapaziada pra rachar uma pizza e um Dolly de dois litros no Plaza mais próximo. E ai da patricinha que postar selfie de nojo no Face e reivindicar UPP na porta da Arezzo. Os incomodados com a ralé que se mudem – e vão promover flashmob em Miami.

2 comentários:

  1. Essa galera só qr "causar", mas mtos se usam disso de forma indevida. Qdo acabarem as férias essa palhaçada acaba junto.

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