domingo, 15 de setembro de 2013

De olhos bem abertos

Não sei se é azaração, paixonite, namorico, compromisso sério, união estável, casamento até que a morte nos separe. Talvez seja amizade colorida – ainda que tenha lá seus momentos em preto e branco, seus incontáveis tons de cinza, suas horas meio sépias. A foto, digo, o fato é que estou pegando a fotografia.

A paquera começou quando um amigo em comum passou a postar seus instantâneos nas redes sociais. Não demorou para eu me encantar com aquelas paisagens bucólicas da Urca, com aqueles bem-te-vis que pareciam posar para um documentário do Discovery, com aquelas flores que poderiam ter crescido num jardim do Monet.

Desde então, vivo de câmera a tiracolo – quase como um japa de férias em Paris –, caçando flagrantes não só da natureza, mas também, e especialmente, das ruas, das calçadas, dos becos, dos rostos, dos gestos, das luzes, dos muros: de qualquer pedra-no-meio-do-caminho que se revele um verso; de qualquer pichação que, sob o melhor ângulo, se desfaça em grafite.

Vale tudo: o arquiteto (do breve) erguendo castelos na areia; o beijo sendo roubado numa esquina à primeira vista segura; o buggy amarelo raiando o asfalto nublado; o balanço repousando numa pracinha descriançada; o vidro estilhaçado dando ares de Picasso ao casario velho; o sorriso afrouxando a multidão de gravatas; o sol descascando entre paredes desbotadas; a lua pingando por uma fresta de céu.

Nem preciso dizer o quanto estou curtindo encher a memória da minha Samsung. A razão de tanto chamego talvez esteja em escolher o que clicar, que se aproxima muito do ato – igualmente prazeroso e arriscado, às vezes tenso – de decidir o que escrever: aquela contagem regressiva (progressiva?) até o flash, segundo-luz em que passamos a enxergar o mundo sem os filtros do senso comum, com o zoom da sensibilidade, quiçá com a resolução da poesia.

Não saio mais por aí como antes, quando parecia usar antolhos, só via o caminho da padaria, do trabalho, do shopping, e não registrava o olhar do menino devorando os doces do balcão, o labirinto de baias soterrando neurônios, a prateleira de sapatos seduzindo corredores de pernas.

Agora só ponho os pés para fora de casa com as janelas – da alma – escancaradas.

3 comentários:

  1. Que legal, que lindo. :)
    Também curto fotografia, e almejo uma boa relação com ela.

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  2. Ultimamente seu blog está sendo textos de cotidiano e reflexivos, sentimental, porem mulheres sabem mais nessa área. Mais está um texto de sentimento masculino que perde um pouco de força comparado ao sentimento feminino que é muito mais sentimental. O homem é racional e as mulheres sentimentais!

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  3. mais um ótimo texto, o seu blog é um dos melhores que eu já vi aqui na internet, muito bom, parabéns e sucesso

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