domingo, 7 de julho de 2013

Apocalipsilone

Pára tudo (com acento mesmo pelo agudismo da situação). Acabo de ler no jornal de domingo da semana passada que a mais tocada em Bole-Bole há meses – repetindo: há meses – é a bizarrenta “Te esperando”, do Luan Santeiro, aquele projétil de meteoro desachado, topete de Pica-Pau birutista e olhos de Capitu estrabicada que costuma explodir os tímpanos alheios feito rocha extraterrérica de filme catastrofesco.

Pra quem não está ligando o nome à ““canção”” (aspas quádruplas): falo daquela serenata surrealeira cuja letra traz o eu lírico – no último estágio da síndrome de Highlander – bradando que vai esperar a amada “nem que já esteja velhinha gagá/ com noventa, viúva, sozinha, não vou me importar/ vou ligar, te chamar pra sair/ namorar no sofá”.

Não bastasse o fato em si, indigno de manchete nos piores tabloides bolebolenses, a matéria relaciona a balada romanticaquética a uma “linhagem de canções de amor exacerbado que, com menos ou mais humor ou leveza, ficam no limite entre a loucura e o romance. Uma tradição que vai da quase psicopata ‘Every breath you take’ (‘Cada passo que você der/ Eu estarei observando você’) à exagerada ‘Por você’ (‘Eu iria a pé do Rio a Salvador’), passando [...] pela sufocante ‘Esse cara sou eu’ (‘O cara que pensa em você toda hora’)”.

Peraí. Deixa ver se eu entendi: a melô do vovô taradista entrou pro time de clássicos do The Police, do Barão Vermelho e do Roberto Carlos? Essa peroleca do amor gagaísta – que, se juntar letra, melodia e arranjo, não dá (nem) um hit do Raça Negra? Taí maldade das mais maltratânticas – de fazer delirar até cigana charlatanuda.

Mas, como tragédia pouca é bobagice, tem mais: Luanzito declarando, na mesmelenta reportagem, que está numa fase de leitura, de Drummond a Vinicius, tropeçando em Gabriel García Márquez. Outro dia ganhou um exemplar dO amor nos tempos do cólera – com a seguinte dedicatória: “Se Florentino Ariza e Fermina Daza vivessem a sua história hoje, certamente ‘Te esperando’ seria a trilha sonora do casal”.

Quê? Ari e Dadá remexendo as cadeirolas ao som do sertanejo universitário da derradeira idade? Agora parei mesmo. Até com os sufixos saramandistas. Podem chamar a Dona Redonda – que eu tô prontinho pra ter o cérebro devorado.

5 comentários:

  1. Olha, esse amor de "vou te esperar nem q esteja velhinha gagá, com noventa ou viúva", me poupe... aliás poupe os meus ouvidos e a minha inteligência. O melhor da vida é o viver agora com a pessoa amada... o que vou usufruir com "o grande amor da minha vida" aos noventa anos? E gagá? rsrsrsrsrs Por favor rsrsrs

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  2. ahuahuahuahuahu A música dele está gagá! E querer comparar com Barão, Roberto, Drummond, Vinicius e por aí vai, é muita pretensão do cara dos olhos de Capitu estrabicada! ahahaha

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  3. eu apaixonei com o post...
    o humor que usou para fazer a crítica simplesmente me fascinou (e não é bajulação, geralmente sou bem chata com críticas)
    quanto a música graças ao bom Deus, eu nunca ouvi, e pretendo não ouví-la... hehe... não gosto do rumo que as canções brasileiras tomaram e fico um pouco à margem das notícias relacionadas...

    ótimo texto, mesmo!

    http://mmelofazminhacabeca.blogspot.com.br

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkk amei suas verdades gramaticais , principalmente no primeiro árágrafo , o texto ficou ímpar além do que, ri demais!!!!! Mas cultura é sempre bom , deixa a criatura babolesca ficar informada , quem sabe ele ainda salve suas músicas!!! rsrs Abraço!!!!
    Então experimenta esses sons e vê se gosta...rsrsrs vai que...
    http://alternativassonoras.blogspot.com.br/2013/07/sonzera-das-antigas.html

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  5. Queria q esse rapaz fosse invadido por formigas. Isso sim daria uma boa canção.

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