domingo, 9 de setembro de 2012

O grande ditador

O príncipe Hugo, Huguinho para as netas da Vovó Donalda, não sossegou enquanto não sentou no trono de pau-brasil deixado pelo pai, o temido Adolfão I, II e III – que sempre teve o pódio todinho só pra ele. Bastou o rei de roma comer rúcula real pela raiz, e o menino tratou de capar, moer e servir numa bandeja de ouro os irmãos mais velhos: Zezinho e Luisinho. Sem direito a farofa ou molho vinagrete.

A cerimônia de coroação do novo número um do pedaço e adjacências foi um luxo só. De fazer muita inveja à família surreal britânica e aos milksheiks árabes unidos. A comilança foi oferecida pelo poderoso chef(ão) Clô de Troisgros. A decoração, assinada pelo gênio da beleza interior e exterior Tok Stok Rosenbaum. A música, os fogos copacabânicos e os efeitos cafonálicos, uma gentileza da André Rieu Big Band & Surround Sounds.

Até a comunidade do Chapéu Projac desceu o morro para ir à festa. Que teve direito a Amaury Sandy Junior entrevistando as celebridades mais instantâneas de Wonderland, aquelas cuja fama não ultrapassava quinze segundos – as que excediam o tempo regulamentar tinham suas cabeças cortadas a pedido do rei, que não admitia concorrência no horário nobre e no plebeu.

Entretanto, contudo, todavia, apesar de tantíssima pompa, as circunstâncias ainda impediam que o monarca fosse inteiramente feliz. O regime do país era tão, tão rigoroso, que não só proibia o consumo de Big Macs, como também vetava a adoração de ídolos estrangeiros. E quiseram as fadas-madrinhas da Segunda Estrela à Direita que Hugo nutrisse uma paixão incontrolável pelo Mickey Mouse, o garoto-propaganda de seu maior rival, o Tio Patinhas Sam.

Nada que um passaporte falso, uma viagem clandestina e bastante maquiagem não resolvessem. E lá foi o rapaz brincar duas semanas nos parques do rato mais famoso do planeta. Tudo ia bem até o soberano sair encharcado de um passeio na Splash Mountain. O banho que tomou desfez o disfarce. Sua foto  com orelhinhas no lugar da coroa – logo se espalhou pelas redes sociais.

“Ôôôô, o imperador voltou... O imperador voltou... a ser criança!”, berravam as manchetes dos tabloides e demais jornalecos de oposição.

Para encurtar a estória e não cansar os eleitores: ao contrário das previsões de Míriam Porcão e Mãe Dinada (os maiores oráculos da nação), o rei desembarcou na Casa Branca de Neve, sede do governo, ovacionado por conselheiros, secretários, funcionários e, especialmente, pelo povo, que passou a exigir direitos iguais; em outras palavras, a livre circulação de chapéus e acessórios do Mickey, da Minnie, do Pateta, do Pluto, além, claro, de permissão para férias na Disney.

Reivindicações justas que Hugo o Generoso e Magnânimo, orientado pelos sábios marqueteiros de seu partido e pressionado pelos donos das agências de turismo, acabou aceitando. Mesmo a doses majestádicas de contragosto. Afinal, passaria a dividir sua idolatria pelo camundongo com os queridos súditos – aqueles roedores que, infelizmente, não cabiam em sua bandeja de ouro nem capados e moídos.

4 comentários:

  1. ficou legal a história dele com tons de humor.

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  2. aeheahehaae

    vc q fez? :D


    http://www.ziqzira.com.br/

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  3. Eu rachey (espaço publico frequentado por desocupados) kkk' mto bom


    Trollando Mesmo
    http://qualetrollandomesmo.blogspot.com.br/

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  4. Poxa, muito intuitivo e impressionante! Com certeza foi a melhor leitura que fiz hoje.
    Parabéns!

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