domingo, 12 de agosto de 2012

Gigante

pulei da cama como se me jogasse da janela do quinto andar. esqueci os óculos na gaveta. mal vi a mesa do café. mal senti o cheiro do café. corri até a garagem, e Pai já estava lá, balde na mão, lavando o fusca. me passou um pano velho. pediu que eu o ensaboasse com cuidado, sem pressa, para deixá-lo o mais limpo do mundo.

à tarde tinha jogo em são januário. o primeiro da minha vida no estádio. o centésimo e tanto da dele. nossa estreia juntos.

chegamos cedo, cedo. gostava de madrugar. quem aproveita o dia aproveita a vida, dizia sob o bigode grisalho. no breve caminho até a entrada do caldeirão, me protegeu dos vendedores de churrasquinho, dos bebedores de cerveja, dos torcedores mais exaltados. ainda comprou um picolé que era gelo puro, corante vermelho e alegria.

pouca gente nas arquibancadas, pouca gente nas cadeiras. multidão pra mim. nunca tinha visto um teatro tão cheio, um cinema tão grande.

cheias, grandes também ficavam as nuvens. enquanto as sobrancelhas dele, cheias, grandes, se mexiam preocupadas. decidiu então pular o alambrado, procurar um lugar coberto nas sociais. me assustei com a ideia. quebrar as regras não era coisa que se ensinasse. mas o que parecia errado virou certo quando ele estendeu a mão e me ajudou a escalar a grade.

do outro lado, o gosto da vitória.

que veio também com a bola rolando e o gol solitário do pernambucano – que comemoramos com um abraço infinito de dois, três segundos.

apito final. volta para casa. o fusca no meio da torcida bem feliz. estendi a bandeira na janela, e o resto era com o vento. como se não houvesse amanhã nem depois, o rádio repetia e repetia e repetia os melhores momentos. só os que aconteceram dentro das quatro linhas, sob os olhos das câmeras e os ouvidos dos microfones.

os outros, tira-teima algum foi (nem era) capaz de flagrar.

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