quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Dia de São Madruga

Não pode ser apenas coincidência a inauguração do Pasmatório cair no Dia de São Madruga, o santo protetor dos desocupados. Eu não acredito em coincidências. Acredito, sim, num sinal do céu. Acredito no homem pobre porém honrado que não tinha um centavo no bolso; que sabia o quão trabalhoso era viver sem trabalhar; que sofreu inúmeras injustiças calado; que, viúvo, criou sua filha sozinho; que certa vez, mesmo sem ter o que comer, convidou o menino do barril para o desjejum. O homem que, apesar dos pesares, mantinha sempre um sorriso no rosto. Não por acaso, ainda em vida, virou mito. E, depois de morto, tornou-se santo.

Por essa incrível "coincidência" e por tudo que representa para milhões de devotos espalhados pelo Brasil, São Madruga será nosso padroeiro. Tenho certeza de que ele abençoará este que vos escreve e aqueles que, na falta do que fazer, visitarem este humilde espaço, especialmente se rezarmos com muita fé a prece que não teve tempo de nos ensinar − pois tentava vender os higiênicos churros da Dona Florinda...

Ave, São Madruga, cheio de graça e desgraça, o Senhor Barriga não é convosco. Bendito sois vós entre os chimpanzés reumáticos, e bendito é o fruto de vosso ventre, Chiquinha. Santa Gentalha, Tripa Seca, rogai por nós, ociosos, agora e na hora de nosso descanso. Santificado seja vosso nome, venham a nós vossa lucidez e simplicidade, seja feita vossa vontade − só depois das dez da madrugada −, assim na vila como em todo pasmatório. A viagem a Acapulco e a outros paraísos, nos dai hoje e sempre. Perdoai os tapas da Velha Coroca, assim como nós perdoamos a quem nos cobra aluguéis atrasados. E não nos deixeis cair na tentação da vingança − vingança que nunca é plena, mata a alma e a envenena −, mas livrai-nos da Bruxa do 71, digo, da Dona Clotilde. Amém.

Last but not least, é importante lembrar que a oração deve ser feita diariamente, de preferência ao acordar, antes da primeira refeição e do acesso ao blog, sob pena de o abominável Velho do Saco aparecer no meio da noite e levar o desocupado infiel − que preferiu evitar a fadiga − para um endereço desconhecido na distante cidade de Tangamandápio.

4 comentários:

  1. Tenho que confessar que sou devota fervorosa do injustiçado São Madruga.
    Adorei o texto!!!

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  2. todos nós temos uma bruxa do 71 na vida a nos encher o saco, heheheheh. Viva São Madruga!!!

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  3. hahahahahahaha, fantástico!
    Salve São Madruga!

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