Já é notícia velha, senil até: o Supremo Tribunal Federal
validou, por unanimidade, a adoção de políticas de reserva de vagas para
garantir o acesso de negros e pardos a instituições de ensino superior em todo
o Brasil-sil-sil. Noutras palavras, estão enfim legitimadas as tão
discutidas (ou discutíveis) cotas raciais. Segundo
os ilustres ministros que julgaram o tema, as famigeradas são necessárias para
corrigir o histórico de discriminação no país e reduzir a desigualdade.
A-hã.
Deixa ver se eu entendi: o bacuri que teve a infelicidade
de nascer numa comunidade carente (de saneamento básico, de escola nota dez, de
hospital saudável, de paz em cada beco, de lazer na pracinha), mas a felicidade
de ser mais corado que o vizinho, terá mais chances de entrar numa
universidade? O Estado – que o abandonou desde o começo da vida, que
não lhe assegurou os direitos fundamentais – vai agora remediar seus
erros com um paliativo?
Maravilha. Nada mais conveniente que maquiar a própria
incompetência – e descaso – com um bocado de
demagogia.
A sensibilidade dos ilustres ministros, em sua maioria
senhores brancos, foi tão imensa que me comoveu. Por pouco não
chorei. Quanta generosidade e boa vontade com os povos oprimidos pelo
Sistema e pela História, esses deuses que nos maltratam ano após ano, século
após século, independentemente dos nossos sinceros desejos de igualdade.
Bom, já que sou voto vencido pela unanimidade do Supremo (que jamais foi burra, seu Nelson),
gostaria ao menos que a genial ideia das cotas extrapolasse a senzala das raças
e se expandisse por outras casas-grandes. Exemplo: o Congresso Nacional. Que tal
passarmos a reservar umas vaguinhas para políticos honestos, uma vez que, na
base do voto, não arrumamos nada?
Quem sabe assim um dia tenhamos representantes
verdadeiramente dispostos a tratar as causas da nossa miséria, não apenas
preocupados em mal administrar suas consequências. Quem sabe assim um dia não
precisemos de cotas e quetais para "fazer justiça" àquele bacuri preto,
branco, amarelo ou vermelho – que teve a infelicidade de nascer numa
comunidade carente.
muito bom o seu blog ...
ResponderExcluirabaixo o preconceito.
ResponderExcluirque todos tenham um bom futuro
ResponderExcluirQuerido, como sempre, sábias palavras...
ResponderExcluirMuito bem escrito, belas palavras. Concordo plenamente!
ResponderExcluirEstou seguindo, retribui :)
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Realmente... Muito bom, só a imagem já diz tudo.
ResponderExcluirBeijos.