Uma amiga já tinha me avisado: você não vai comer quase
nada na sua festa de casamento. Dito e feito: estava eu tão disposto a me
a-ca-bar na pista de dança, que mal vi docinhos e canapés. Sorte minha que a
Fernanda – a fada com bochechas de princesa que o Cupido flechou no
meu caminho – sabiamente resolveu congelar alguns quitutes.
Cá entre nós, eu não acreditava que, após meses de inverno
rigoroso no freezer aqui de casa, as gostosuras continuassem vivamente
saborosas. Engano meu. O bombom continuava com aquele aroma de cappuccino feito
na hora. O beijinho de coco continuava doce, doce. A trufa de nozes continuava
surpreendentemente... trufa de nozes.
Como se um feitiço trouxesse novamente à vida cada uma
daquelas delicinhas.
Seria bom também – incrível, fantástico,
extraordinário, eu diria – se pudéssemos fazer o mesmo com nossos
corpitchos: hibernar por umas semanas, meses, anos, décadas, o século
necessário, e acordar tão vivamente saborosos quanto no instante do congelamento.
Com o mesmo aroma, a mesma doçura, a mesma imagem no espelho. É nozes!
Assim, poderíamos esperar sossegadamente – sem
perder um segundo de juventude – até que a novela chata chegasse
ao último capítulo; que o filme tão aguardado estreasse; que a modinha do
sertanejo universitário passasse; que o Faustão e similares se aposentassem;
que o Mano (ou o treinador da vez) escalasse uma seleção digna da Seleção.
Que todo trenzito do metrô fosse confortável; que toda
favela fosse urbanizada; que toda escola fosse respeitada; que todo hospital
fosse bem equipado; que todo ladrão fosse preso; que toda licitação fosse
honesta; que toda cota racial fosse dispensável; que todo preconceito virasse
uma lenda distante; que toda desigualdade social fosse extinta.
Que o Brasil fosse um país sério.
Pensando bem, talvez não seja uma ideia tão incrível, fantástica,
extraordinária ficar tanto tempo na geladeira. Vai que o mundo termina e a luz
apaga. Periga nossos sonhos derreterem.
Precisamos fazer de nossos sonhos doces... e jamais deixar que sejam congelados...
ResponderExcluirAdorei a comparação! Embora o último parágrafo "mate a charada": talvez a vida perca a autencidade... o sangue quente que corre pelas veias!
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