Como eu gostaria de ser suficientemente corajoso ou
cretino − ou um pouquinho dos dois − para começar e
terminar esta crítica, crônica, comentário ou coisa que o valha com a expressão
"sem palavras". Não escrever mais nada. Nem uma linha. Porque os dois
vocábulos, a sós, pretinhos no branco, já dizem tudo o que O artista é capaz de
provocar em qualquer cinéfilo.
Michel Hazanavicius, por sua vez, foi corajoso. Demais. Num
mundo que não para de falar; que grita isto, isso e aquilo em três, quatro, até
cinco (?!) dimensões; que berra com efeitos cada vez menos especiais a vida da
gente − o diretor e roteirista francês abriu mão de todas as
pirotecnias possíveis para contar uma história simples e despretensiosa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_zSHRStMHmFI0GCQLhQXcFEv_Jql-8H3wpArCECLuYYOJUJHs-4J6Ek3rkU_K5SHW9jxzUWOOtElLCuykrGjR3bGzWP9KKZJUjzeyNVPkGj4zZoSLQhJwiMmN3HiEvDZRR7mb01Wm6uY/s320/O+artista.jpg)
Afora o trio ternura e os coadjuvantes vividos por James
Cromwell (o motorista Clifton) e John Goodman (o produtor Al Zimmer) − aparentemente
resgatados de um filme dos anos 1920 por alguma máquina do tempo, tamanha
a precisão de suas atuações −, O
artista orgulhosamente apresenta uma trilha sonora (composta por
Ludovic Bource) a um só tempo discreta e vistosa, que não apenas realça o que
vemos e não ouvimos, como também é fundamental na (re)criação daquele universo,
por pouco não lhe pincelando cores.
Por falar nelas, o preto e o branco invariavelmente
aquarelam de bom gosto e elegância o mais singelo dos roteiros. E, nesse caso,
a palheta do fotógrafo Guillaume Schiffman não poderia ser mais apropriada.
Sequências como as de Valentin retirando furiosamente lençóis que
escondem diversos objetos ou destruindo desesperadamente seu acervo
de filmes − repletas de sombras agressivas e quadros
inclinados − têm um quê de pesadelo expressionista e sublinham com
força a angústia daquele ator em decadência.
Ator que é, em síntese, a essência de O artista e talvez uma
metáfora-homenagem ao próprio cinema − que muitas vezes arrasa
quarteirões e corações, alcança o topo das bilheterias, depois cai
vertiginosamente, é engolido pela areia movediça do fracasso, é sentenciado de
morte, mas se reinventa, levanta, sacode a areia, sapateia com graça e dá a
volta por cima. Como se tudo não passasse de uma grande brincadeira.
adoro esse filme!
ResponderExcluirhttp://somethingaboutbooks.blogspot.com tá rolando promoção de GOSSIP GIRL, participe e concorra a primeira temporada completa!
Tem que amar verdadeiramente o cinema em sua essência para compreedê-lo e amá-lo, que linda homenagem a sétima arte e que charme de Jean Dujardin... Não há palavras pra quando algo é belo demais...
ResponderExcluirAmei o texto!
http://mariliatasso.blogspot.com/
Abs...
Muito bom!
ResponderExcluirNão só filmes, mas fotografias preto e branco são fantásticas. Transmitem um algo a mais, um charme e tocam cada detalhe de forma única.
ResponderExcluirQuando soube que o filme era preto e branco e mudo, não fiquei com nenhuma vontade de assistir! Mas confesso que quando o filme conquistou os 5 Oscar, fiquei mais curiosa em relação à ele.
ResponderExcluirAgora, depois de ler sua resenha me despertou uma vontade de assistir o filme e, com certeza, estará na minha lista dos próximos filmes a assistir! Você escreve muito bem, parabéns!