Alguém disse uma vez que a vida é belíssima até você
comprar e ler o primeiro jornal. Verdade. No meu caso, até eu sair de
casa e descobrir que o vizinho do lado insiste em não fazer a coleta
seletiva do lixo, que a passagem do ônibus aumentou de novo, que os motoristas
ignoram o sinal vermelho, que meus alunos não estão nem aí para o sujeito, o
predicado e o professor. Aliás, não estão aí para nada − a não ser
funk, sacanagem e novelas da Record.
Felizmente, porém, o dia não se resume à primeira página do
noticiário e às suas manchetes tão desanimadoras. Com um bocado de sorte e
alguma procura, somos capazes de garimpar uma boa notícia no Segundo Caderno,
uma resenha contente no Prosa & Verso ou, ao menos, uma notinha alegre em
algum canto da Revista da TV.
Pois foi o que aconteceu comigo no último domingo. Estava
eu zanzando distraidamente por um shopping center − aquele Saara
de pessoas, compras e crediários correndo de um lado para o outro,
crianças fazendo choro, vendedores caçando clientes, um solitário bilheteiro
atendendo à quilométrica fila do cinema − quando mais que de repente
surgiu um inacreditável oásis bem no meio das vitrines e escadas rolantes.
Um piano, um pianista.
Que deslizava os dedos no teclado como Verissimo dedilha
ironia em suas crônicas. De Beatles a Lady Gaga, passando por Coldplay e Guns
N' Roses... Oh! Sweet child of mine!
Não demorou muito para o espetáculo ganhar plateia: pessoas
que esqueceram as compras e os crediários, crianças que engoliram o choro,
vendedores que interromperam a caça... Por alguns minutos. Como se o tempo
enfim parasse e um sopro de sensibilidade pairasse. Como se ainda fosse
possível a cada um de nós garimpar a boa notícia, a resenha contente, a notinha
alegre no jornal preto-e-branco de todos os dias.
Muito bom!
ResponderExcluirMuito bom texto cara!
ResponderExcluirEstou seguindo.
Confere meu blog, Código Literário.
http://codeliterario.blogspot.com.br/
Comenta e Segui meu blog também.
lindo, Fabio.Bjs
ResponderExcluirMuito legal o texto, e realmente a vida não é somente a primeira página de noticiários, porém a realidade de os estudantes não estarem nem aí para o professor é um perda deles mesmos..
ResponderExcluirParabéns!