Nem
os carros voadores, nem a Rosie (embora uma robô capaz de dobrar lençóis de
elástico não fosse de se jogar fora). O que mais me encantava em Orbit City, a
cidade onde viviam os Jetsons, era o fato de George trabalhar, graças aos avanços
tecnológicos, apenas três horas por dia, três dias por semana; alguns sites
registram um expediente ainda menor: uma hora por dia, dois dias por semana.
Utopia.
Com
um exterminador do futuro prestes a tomar definitivamente a presidência da
República, não dá mais para acreditar num destino como o do simpático personagem
da Hanna-Barbera. Viajamos a 88 milhas por horas rumo ao amanhã de outro George,
o Miller – criador daquele deserto pós-apocalíptico em que a única esperança
era um sujeito tão louco, que só podia se chamar Mad Max.
Já
vejo as ações da Umbrella disparando na bolsa depois de aprovada a jornada de
trabalho de oitenta horas semanais e trinta minutos para o almoço. Vejo também
os trabalhadores braçais pobres – cuja expectativa de vida é inferior à idade
mínima a ser imposta para a aposentadoria – saindo das covas para reivindicar seus
direitos. Vai ser tanto zumbi tocando o terror, que periga o Estado Islâmico explodir
de inveja.
Sorte
nossa que a Justiça e a Polícia Federal hão de tomar as providências
necessárias para evitar esse Armagedom. Como guardiãs da galáxia, da moral e
dos bons tucanos, vão pôr em prática a Operação Minority Report, em que mandados
de prisão preventiva expedir-se-ão na calada da noite e os mortos-vivos conduzir-se-ão
coercitivamente a presídios de segurança máxima, onde submeter-se-ão ao
tratamento Ludovico.
A
terapia inclui ouvir mil discursos de célebre orador especializado em
mesóclises. Cheguei a escutar meio minuto de um deles e posso garantir: é
cyberpunk.
Caso
algum defunto escape dos robocops, a lei Bandido Bom é Bandido Morto – aprovada
há meio século na Câmara dos Siths – autoriza os cidadãos de bem a usarem seus fuzis
de blaster contra ele. Se o cadáver em questão der sinais de feminismo,
gayzismo ou quaisquer outros comunismos, é ainda permitido ao atirador o
emprego das minipistolas conhecidas como pastores.
Nenhum
neuralizador executa uma lavagem cerebral melhor que elas.
Outra
lei prestes a completar bodas de ouro neste nada admirável mundo novo é a
Fahrenheit – apelidada de Escola sem Livro. É particularmente curioso o artigo
451, que obriga as instituições de ensino a eliminarem suas bibliotecas
utilizando imensas fogueiras. Especialistas do Greenwar concluíram que a
emissão de gás carbônico é cem vezes menos danosa ao meio ambiente que a de
ácaros, fungos e ideias.
P.S.: Como até a Terra um dia parou, vou me dar o direito de entrar em contato imediato com as férias. Volto assim que for devolvido da abdução.
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