Não
satisfeita com a aliança de brilhantes, o bolo confeitado a ouro e o salão cujos
lustres devem ser mais caros que o meu apê, a noiva queria porque queria
pinguins na sua festa de casamento. Você não leu errado: pinguins. E lá foi a lindona
a um desses aquários gigantes (tipo Sea World) alugar o que, nas suas palavras,
eram os bichinhos mais fofos do universo. Só que, ao entrar na gaiola, ela se
deu conta de que os tais bichinhos não eram tão fofos assim. Faziam barulho,
fediam a peixe e – muito malcriadamente – bicavam quem se aproximasse deles
para uma selfie involuntária. Preocupada com o conforto e a integridade física
de seus convidados, a moçoila resolveu então substituir os animais por réplicas
de pelúcia.
Pode
parecer um episódio perdido de Twilight
Zone, mas é apenas mais um casório registrado pelas câmeras do Vestido ideal: o grande dia, do
Discovery Home & Health.
Só
esse pedacinho de programa já merecia uma ação do Greenpeace em parceria com a
Sociedade Protetora das Aves Que Vivem em Iglus. Valia até um #ocupaigreja ou o
confisco dos bem-casados. Qualquer coisa que chamasse a atenção da dondoquilda
e de qualquer outro desavisado capaz de achar o máximo, por exemplo, incluir
uma onça pintada no roteiro da tocha olímpica.
Surpresa
nenhuma essa incompetência do ser humano em se pôr no lugar de outras espécies.
Não consegue se pôr no lugar nem da própria.
Continuo
esperando ansiosamente o dia em que vamos entender, de uma vez por todas, que o
outro não é obrigado a ser como a gente espera que ele seja. Que nem toda
mulher sonha com a maternidade. Que nem todo rapaz sonha com a habilitação. Que
nem todo menino gosta de futebol. Que nem toda menina prefere rosa. Que nem
todo gay conhece a obra completa da Lady Gaga. Que nem todo jovem vira o finde
na balada. Que nem toda vovó se vira no tricô. Que nem todo tímido quer vencer
a timidez. Que nem toda gordinha quer vencer a balança. Que nem todo deputado exige
propina. Que nem toda madrasta é vilã. Que nem todo brasileiro seca os
argentinos. Que nem todo carioca frequenta a praia. Que nem toda princesa mora
num castelo cheio de muros.
Tem
a mulher que concebe romances policiais, o rapaz que faz da bike o seu
conversível, o menino que quer ser o próximo masterchef, a menina que (tal qual
a Cinderella) adora azul, o gay que coleciona as rosas atiradas pelo Rei em
seus shows, o jovem que passa a madruga lendo Pessoa, a vovó que não perde um
rapel com os amigos, o tímido que acha ótimo ir ao cinema sozinho, a gordinha
que seduz a si mesma com suas curvas, o deputado que – pasmem – respeita seus
eleitores, a madrasta que é mãe, o brasileiro que reverencia o Messi, o carioca
que gosta de dias nublados.
A
princesa que vive na aldeia.
Certamente
esse não era o caso daquela noiva e o de muitas pessoas por aí – que têm
passado cada vez mais tempo em seus castelos de pelúcia e, por isso, se assustam
sempre que topam com pinguins de carne, osso e penas. Daí a necessidade de sair
da caixinha com mais frequência e conhecer outras realidades. Deixar a ilha onde
residimos e dar umas voltas no continente ajuda a exercitar a empatia. Principalmente:
diminui o risco de fazermos da nossa vida um eterno brexit.
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