Sei
que uma imagem vale mais que mil palavras. Só que, de vez em quando, é bom a
gente colocar uma legenda na dita-cuja para ver se todo mundo entende o que
está diante dos olhos.
O
retrato de Michel Temer com seus ministros exige uns caracteres.
Que
o presidente ilegítimo não foi eleito com os milhões de votos de homens e
mulheres, brancos e negros, héteros e homos, jovens e velhos, pobres e ricos –
mas com as dezenas de sins de um parlamento essencialmente masculino, branco,
hétero, sessentão e financiado por empresários –, não é difícil perceber.
Ainda
assim, ele deve ter achado indispensável sublinhar o fato; caso contrário, não
montaria um ministério tão macho alvo, não necessariamente alfa. Surpresa
nenhuma. Nem as mais polianas criaturas – exceção feita ao senador Cristovam
Buarque – esperavam que uma mulher deixasse o recato de seu lar para ocupar a
pasta do Trabalho. Ou que um negro preenchesse a vaga do novo ministro da
Educação, cujo partido um dia foi ao Supremo contra as cotas raciais.
Da
mesma forma, ninguém (com o mínimo de semancol político) imaginava que qualquer
integrante de movimento social fosse dividir a foto da posse com um ministro da
Justiça acostumado a ordenar, sem mandado judicial, a entrada de policiais
militares em escolas ocupadas por alunos que protestam pela merenda.
E
pensar que no Canadá – se me permitem um parágrafo vira-lata – os cargos
ministeriais são igualmente divididos entre homens e mulheres; além disso,
contam com representantes de diferentes etnias, orientações sexuais e crenças
religiosas. Mas esse papo de empoderamento e diversidade é conversa fiada
dessas republiquetas bolivarianas esquerdopatas gayzistas.
País
com pê de progresso se preocupa mesmo é com a inclusão das maiorias –
especialmente as suspeitas de corrupção e enriquecimento ilícito. Só isso para
explicar o fato de Temer ter escolhido tantos nomes investigados pela Justiça
para compor seu governo, alguns dos quais citados no Tribunal da Santa Operação
(vulgo Lava-Jato). A propósito: onde foram panelar os cidadãos de bem
indignados com a nomeação de certo ex-presidente para a Casa Civil por ser
também um investigado?
Boas
línguas me contam que eles andam inebriados com a volta da mesóclise aos
discursos oficiais, o que não era ouvido no Planalto há pelo menos treze anos. Dizem
que tais seres – habituados a medir o caráter de um político pelo uso (ou não)
dos plurais – tiveram orgasmos múltiplos ao escutarem aquele pronome átono bem
no meio do verbo.
Só
não entendo como esse apreço tão genuíno pela última flor do Lácio pode
combinar com a extinção do Ministério da Cultura.
Enfim.
Bastidores
do pós-foto: Temer recebeu uma bênção do pastor Silas Malafaia. Quem viu a cena
afirma que foi uma espécie de excomunhão do Estado laico. Esse momento de
tamanha fé e religiosidade dos nossos governantes me fez lembrar a Santa Ceia;
não o afresco original, mas um alternativo, nem de longe cristão.
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