Faz
nem um ano que o rompimento da barragem da mineradora Samarco (controlada pela Vale e pela BHP Billiton) despejou milhões de
metros cúbicos de lama tóxica no rio Doce: 663 quilômetros de afluentes e
córregos foram atingidos; 1.469 hectares de vegetação foram comprometidos; 207
de 251 edificações foram soterradas só no distrito de Bento Rodrigues, em Minas
Gerais.
Os
números podiam ser do livro do Apocalipse ou de um pergaminho esquecido de
Nostradamus – mas são de um site do governo federal.
De
acordo com o Ibama, das mais de oitenta espécies de peixes apontadas como
nativas antes da tragédia, onze estão ameaçadas de extinção e doze existiam
apenas lá. “O nível de impacto foi tão profundo e perverso, ao longo de diversos
estratos ecológicos, que é impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao
local, visando ao reequilíbrio das espécies na bacia”, revela um documento
divulgado pelo instituto.
Em
suma, a maior catástrofe ambiental da história do Brasil.
Mesmo
diante desse cenário distópico (cuidadosamente desenhado pela ganância e
negligência de agentes públicos e privados), senadores acabam de aprovar uma
proposta de emenda à Constituição que anula a necessidade de licenciamento
ambiental para execução de obras no país. A tal PEC estabelece que, havendo um
estudo de impacto ambiental apresentado pelo próprio empreendedor – PELO
PRÓPRIO EMPREENDEDOR –, nenhuma obra pode ser suspensa ou cancelada.
Deixa
de existir assim o processo (feito por órgãos independentes) que analisa se um
projeto é viável ou não a partir dos danos socioambientais que ele pode causar.
A
mudança, claro, acontece sob o pretexto de estimular investimentos e gerar
empregos em tempos de crise – a velha desculpa neoliberal para continuamente pleitear
menos regulação do Estado. Segundo os parlamentares que apoiaram a PEC, ela
ainda “tem por objetivo garantir a celeridade e a economia de recursos em obras
públicas sujeitas ao licenciamento ambiental, ao impossibilitar a suspensão ou
cancelamento de sua execução após a concessão da licença”.
Ou
seja: em nome da defesa dos recursos financeiros, atacam-se os recursos
naturais.
Confesso
que nem me dei ao trabalho de investigar quem foram os financiadores das campanhas
eleitorais dos senadores que disseram sim a mais esse golpe no meio ambiente. Só
desconfio de que não tenham sido ativistas do Greenpeace ou moradores de alguma
área alagada pela construção de uma usina hidrelétrica.
Pobre mãe-natureza, que depende dos filhos desta mãe gentil para não
virar o canteiro de obras da mãe-joana. Ô, nave-mãe dos ETs, me leva daqui.
Estou adorando seus textos. Inteligentes, tratam de uma forma bem clara e até irônica de assuntos tão sérios, proporcionando um bom entendimento. Seu blog ganhou mais uma seguidora.
ResponderExcluirBrigado pelas palavras, Josi. Grande abraço. :-)
Excluir