Fui
vítima de um e-mailaço nos últimos dias. Leitores encheram minha caixa de
entrada com mensagens pedindo que eu falasse menos de política e desse mais
espaço a outros assuntos. “Reconheço a importância do tema”, um deles
escreveu, “mas já não aguento mais encarar, texto após texto, expressões de
baixo calão como ‘ditadura militar’, ‘grande mídia’, ‘liberalismo
econômico’ e ‘bolsonaro’”.
Em
respeito a esses leitores, então, vou tentar subir o nível (pelo menos hoje) e
atender às solicitações dos que não só reclamaram, como ainda enviaram
sugestões.
Um
velho amigo implorou “uma palavrinha que fosse” sobre o Prince, encontrado
morto em seu estúdio na quinta passada. Como detesto perder a piada, fiquei
tentado em responder a ele com aquele símbolo impronunciável adotado pelo músico.
Mas desisti da brincadeira ao imaginar a resposta – também impronunciável – que
poderia receber.
Que
posso dizer do artista? Que o descobri aos nove anos, depois de uma sessão de Batman. Saí do cinema direto para uma
loja de discos. Precisava saber o nome da canção que embalara o Coringa e sua
gangue enquanto pintavam com tinta e irreverência o museu de Gotham. Ao virar o
bolachão – que na capa trazia somente o símbolo do Homem-Morcego –, fui enfim
apresentado ao músico, responsável não apenas pela faixa que procurava
(“Partyman”), mas também por todas as outras do álbum.
Já
falei algo parecido sobre o Bowie e serve para o Prince: pouco importa que não
sejamos aqueles fãs que enfrentam até chuva (púrpura, no caso) pelo ídolo; se sua
obra é de fato relevante, vai nos molhar de um jeito ou de outro.
Ao
e-mail seguinte: que, coincidentemente, também tinha a ver com um Batman (o do
Ben Affleck, dessa vez). Uma querida leitora confessou que esperava um pitaco meu
sobre o último longa da DC, que reuniu o Cavaleiro das Trevas, o Superman e a
Mulher-Maravilha. O que posso afirmar é que ainda aguardo uma ameaça à altura
da santíssima trindade da Liga da Justiça; genérico demais o monstrengo criado
por Lex Luthor – uma mistura sem personalidade de Abominável (O incrível Hulk), Azog (O hobbit) e tantas outras criaturas bombadas
de músculos digitais.
Dos
super-heróis da fantasia para os do mundo real: os jogadores do Leicester. Quer
história mais cinematográfica do que a do time de investimento modestíssimo que
está prestes a ganhar a Premier League, desbancando os milionários Manchesters
(United e City), Liverpool, Arsenal e Chelsea? Mil agradecimentos ao primo
louco por mesas-redondas que, ao reivindicar umas linhas sobre futebol, me deu
a chance de reverenciar esse milagre que só o esporte é capaz de proporcionar.
Porque
fora das quatro linhas – no dia a dia dos pontos corridos – tem sido quase impossível celebrar narrativa semelhante, já que a distância entre pobres e
ricos no mundo só vem aumentando. Da mesma forma que seria muito mais
interessante um torneio em que todas as equipes desfrutassem de um poderio
financeiro equivalente (o que tornaria a disputa mais acirrada), seria golaço
um planeta em que cada ser humano desse o pontapé inicial na copa da vida em
igualdade de condições com o vizinho.
Na
trave.
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