As
morozetes que me desculpem: mas para mim todos são inocentes até que se prove o
contrário. Mesmo aqueles que saem às ruas com a camisa amarelinha a favor dos
militares e contra os comunistas – e que fariam jus a uma condução coercitiva
às aulas de História – merecem que acreditemos em suas boas intenções, em seu
desejo verdadeiro de um país melhor.
Só
que às vezes a ingenuidade, quase sempre fruto da falta de informação, pode ser
tão danosa quanto a má-fé.
Vejam
o caso do sujeito que passeateia por aí exigindo, ao mesmo tempo, a saída de
Dilma e o fim da corrupção. Talvez ele não saiba, mas há mais de um ano está
parado na Casa do Cunha um pacote de leis anticorrupção enviado para lá pela...
presidenta. Projetinhos que, entre outras coisas, endurecem a punição contra os
fazedores de caixa dois; tipificam o crime de enriquecimento ilícito de agentes
públicos (inclusive políticos); preveem perda antecipada de bens provenientes
da corrupção.
Oxalá
nossos deputados – tão ficha-limpamente preocupados com o futuro da nação e o
respeito ao dinheiro público – discutissem e aprovassem tais propostas com a
mesma celeridade com que agilizaram o processo de impeachment, em reuniões que
vararam madrugadas e sessões que se estenderam a sábados e domingos.
Outro
tipo de manifestante aparentemente afeito a paradoxos é o que reivindica uma
escola pública de qualidade e vota em partidos com visão de mundo abertamente
liberal (como o PSDB). Mal sabe ele que as duas ações não cabem na mesma urna. Sobre
essa incompatibilidade, aliás, é particularmente esclarecedor o artigo “A
sociedade órfã”, escrito por José Renato Nalini, atual secretário de Educação
do estado de São Paulo (ou seja: integrante de um governo tucano). Em seu
texto, Nalini critica a “proliferação de direitos fundamentais” e o “papel de
provedor” do Estado, que “se assenhoreia de incumbências que não seriam dele”.
Para o secretário, afora segurança e justiça, “tudo o mais deveria ser
providenciado por particulares”.
Deve
ser por isso, então, que as escolas paulistas delegaram a pais e responsáveis a
tarefa de providenciar a merenda dos alunos.
Um
último caso de militante sem noção é aquele que, no auge da insatisfação com
mensalinhos e mensalões, apela para a volta dos militares, pois tem certeza de
que, Naquele Tempo, não havia corrupção. Sorte dele que hoje existe Google e
não existe censura. O sabichão pode digitar empreiteiras + ditadura, dar um
enter sem medo de ser preso por conspirar contra a pátria e descobrir estudos (como
A ditadura das empreiteiras, do
historiador Pedro Campos) que mostram que o casamento entre megaconstrutoras e
governo federal já completou bodas de ouro e teve sua lua de mel no regime
militar – quando a relação era ainda mais intensa e, em razão dos poucos mecanismos
fiscalizadores, bem menos exposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário