Sabe
aquele filme que te deixa com vontade de puxar uns transeuntes no meio da rua e
improvisar uma coreô à Grease? É o caso da fofice musical a que assisti recentemente no Festival do Rio: God help the girl, escrita e dirigida por Stuart Murdoch, fundador da banda escocesa Belle & Sebastian. O longa acompanha as desventuras de Eve (Emily Browning), James (Olly Alexander) e Cassie (Hannah Murray), amigos em meio à travessia entre a adolescência e a vida adulta.
Embalada pelas canções que Eve rabisca enquanto dribla a
anorexia, essa travessia tem seu refrão quando o trio embarca numa canoa para
explorar um rio nos arredores de Glasgow, onde vivem. Graças à delicadeza da
sequência (delicadeza essa que se espalha por toda a fita), o que poderia soar como
metáfora-de-uma-nota-só se revela uma suíte perfeita das vozes que compõem a
sinfonia da juventude: sonhos, inseguranças e descobertas.
Sonhos
como o de formar um conjunto – o que àquela altura parece rimar com a realidade,
especialmente quando a só aparentemente distraída Cassie observa que, se eles
remam juntos, já são uma banda. Somos
mesmo? Ou somos apenas três pessoas num barco? É o que de repente se
pergunta o tímido e inseguro James, que ao fim do passeio é surpreendido por um
beijo de Eve. Doce descoberta.
Tão
doces quanto divertidos são os acordes de humor que se misturam aos agudos e
graves da mocidade. Impossível não rir da "destreza" de James à
beira da piscina, em seu trabalho de salva-vidas; ou do comentário de Cassie
relacionando os finais felizes de filmes e livros à possibilidade de Eve e
James não terminarem juntos; ou, o melhor, da referência hilária ao clássico A noviça rebelde – concluída nos
créditos finais, que citam uma tal personagem Julie Andrews.
Finalmente,
se não bastassem um roteiro que em geral não desafina (a não ser, talvez, pela aparição
de um deus ex machina que banca a
cabelereira nas horas de folga) e a trilha que ecoa a suavidade indie-pop de
Belle & Sebastian, o fotógrafo Giles Nuttgens ainda nos encanta com
enquadramentos cheios de cor e significado, como o que mostra os três companheiros
numa praça, cada qual num aparelho de exercício, discutindo música; ou o que
traz Anton, líder bonitão da banda Wobbly-Legged
Rat, ao lado de um manequim que guarda com ele semelhança que não é mera
coincidência.
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