Façamos
um breve exercício de ficção: se de repente a Globo resolvesse produzir um
seriado levemente inspirado nas eleições presidenciais, certamente chamaria o
Bruno Gagliasso para viver o Aécio e a Valéria do Zorra para interpretar a Dilma.
Chamaria também a Fernanda Montenegro para uma participação especialíssima, no
papel de Fernando Henrique Cardoso.
O
Lula talvez acabasse nas mãos do Tom Cavalcante, que ressuscitaria seu célebre
João Canabrava. Apareceria sempre no mesmo boteco suburbano-estilizado, tipo a
pastelaria do Beiçola da Grande Família, rodeado de seus cumpanheiro de cachaça e biriba – devidamente uniformizados pelos
figurinistas com camisetas do Curíntia e aquelas máscaras dos Irmãos Metralha.
Do
outro lado do Projac, uma mansão paulistamente quatrocentona, já usada em
alguma novela do Silvio de Abreu, serviria de cenário para os coadjuvantes alvos,
héteros e de moral ilibada do heroíno tucano. Cumprindo a cota de atores negros
no núcleo rico, a empregadinha Marina de Fátima, que não mediria esforços para
engravidar do filho do patrão e diminuir a desigualdade social entre sua
família e a dele.
A
direção de arte se inspiraria em filmes-catástrofe e distópicos: pobres e mais
pobres enchendo de iogurte os carrinhos nos supermercados; pobres e mais pobres
invadindo os aeroportos para visitar familiares em Campina Grande e Caruaru;
pobres e mais pobres (inclusive as primas de Marina) cursando as mesmas
universidades dos sobrinhos da família Neves.
Um
autêntico apocalipse classecê – hordas e mais hordas de novos consumidores.
Quanto
à trilha sonora, não poderia soar mais óbvia: Tina Turner e seu clássico “The
best” para cada olhar 45 do netinho de Tancredo; Rita Lee e sua venenosa “Erva”
para cada como-eu-tô-bandida da atual presidente; Cazuza e sua panfletária
“Brasil” para a abertura. Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Não sei e
não sei; só sei que ele pagou propina ao PT, revelaria um figurante sem se
identificar.
Nos
últimos episódios, para alavancar ainda mais a audiência, o tradicional quem-matou:
a vítima, um famoso jornalista de oposição que, inadvertida e neoliberalmente,
denunciou as sessões de degustação de caviar no pé-sujo frequentado por Luís
Inácio e seus red caps. O corpo do sujeito seria encontrado ao lado de uma
foice, um martelo e o Corão – o que tornaria Dona Rousseff a principal suspeita
do homicídio.
Afinal,
as provas achadas na cena do crime só reforçariam os boatos de que a
anti-heroína teria estreitado relações com o Estado Islâmico para instaurar –
em caso de vitória nas eleições – uma ditadura
comunista-bolivariana-com-viés-árabe-kamikaze, cujas primeiras medidas seriam o
fechamento imediato de todos os McDonald’s e o cancelamento sumário de todas as
viagens com destino a Miami, Orlando e Nova York.
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