domingo, 12 de outubro de 2014

Aquarela

Não sei vocês, mas sempre que invento de arrumar aquela estante que suporta mais livros do que a física acredita, encontro motivo para adiar a faxina. Desta vez, foi um livrão de capa colorida e rostos conhecidos: Charlie Brown, Manda-Chuva, os Flintstones, os Jetsons, Tom & Jerry e outros tantos superamigos. Saudade deles. Saudade que me fez garimpar um cantinho de tempo para folhear página por página do Animaq: almanaque dos desenhos animados (Matrix, 2010), de Paulo Gustavo Pereira.

Quem um dia se divertiu com as travessuras do Pica-Pau, acompanhou Scooby e sua turma desmascarando fantasmas nada sobrenaturais ou já se imaginou pilotando o Mach 5 certamente vai adorar essa antologia, que reúne zilhares de madeleines do mundo da animação. Uma verdadeira corrida maluca, que começa nos anos 1930, com o charme da provocante Betty Boop, e vai até o melhor desenho de todos os tempos da última semana, que pode ser o Ben 10 ou qualquer outro animê legitimamente norte-americano.

Uma delícia reencontrar Eric, Hank, Diana, Sheila, Presto e Bobby (ainda) perdidos na Caverna do Dragão; o lalalalá dos Smurfs azucrinando Gargamel; Zé Colmeia e Catatau surrupiando cestas de piquenique em Jellystone; o (nada) bom e (muitíssimo) velho Mum-Rá evocando antigos espíritos do mal a transformar aquela forma decadente no ser de vida eterna.

(Tudo isso enquanto o He-Man dançava um rock gravado por Tom Jobim e a She-Ra namorava o Esqueleto no jardim.)

Tempos bons que invariavelmente voltam quando a gente resolve embarcar numa aventura à Ducktales (uh-uh!) e desenterrar aquelas moedinhas que ficam mais valiosas com o passar dos anos, tesouros como o timing cômico da dupla Papa-Léguas/Coiote; a ironia de cada “que que há, velhinho?” do Pernalonga; e as altas viagens que os Muppet Babies faziam – sem sair do quarto – até que a Babá (só as pernas dela, é verdade) aparecesse e perguntasse “Is everything all right in here?”. Yes, Nanny.

E, se o leitor pensa que that’s all, folks, está ligeirinhamente enganado. O Animaq é um universo de mais de trezentas páginas, e nele habitam ainda o reino de Dar-Shan, o humor de Springfield, os dentões da Mônica, a lendária Flor das Sete Cores e um carregamento vitalício de latinhas de espinafre – além de mil e uma histórias de um lugar que não cabe numa folha qualquer, que não se faz apenas com cinco ou seis retas.

Um lugar que, contrariando a famosa letra de Toquinho, jamais descolorirá.

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