domingo, 24 de junho de 2012

Que a Força esteja conosco

Não está acontecendo numa galáxia tão, tão distante. Está acontecendo aqui mesmo, na cidade do Rio de Janeiro. No olímpico reduto fluminense. Alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental de oitenta escolas – cujos (ir)responsáveis derem autorização – passarão a ter aula de religião uma vez por semana. Para os outros, haverá uma chamada "educação para valores", que tratará de temas ligados à ética e à cidadania.

Professores católicos, evangélicos, espíritas, entre outros, serão contratados pela prefeitura para atender à incomensurável demanda por desenvolvimento espiritual dos cidadãos cariocas.

E aí me pergunto, Pai nosso que estais no céu: até que ponto o Estado tem o direito de utilizar o dinheiro de seus contribuintes – inclusive de ateus e agnósticos – para financiar a catequese de nossas criancinhas? Não existirão prioridades menos etéreas e celestiais, levemente mais chãs e urgentes, nesta terra adorada? Não terão um uso mais útil e necessário os impostos recolhidos do que o investimento nas almas dos filhos deste solo?

Talvez o saneamento básico daquela comunidade abandonada por Deus; o tratamento daqueles dependentes de crack esquecidos por todos os santos e beatos; o asfaltamento daquela rodovia ignorada pelo espírito de luz mais evoluído; a reforma daquele hospital desprezado pelos orixás mais poderosos; a despoluição daquele córrego deixado à própria sorte pelas entidades do mais alto escalão divino.

Cá entre nós, se a esta altura do século 21 ainda se permite o emprego de recursos públicos no maravilhoso mundo da Carochinha ou, levando um pouquinho de fé, no fantástico território dos seres invisíveis, por que afinal não se cogita logo a admissão de docentes com especialização em midi-chlorians, mestrado em filosofia sith e doutorado em sabedoria jedi?

Quem sabe até os trekkers mais ortodoxos não simpatizem com a ideia.

4 comentários:

  1. Texto fantástico, conseguiu fazer uma ótima critica companheiro.

    ResponderExcluir
  2. Nossa que absurdo, que retrocesso. Parece coisa do Bush.

    ResponderExcluir
  3. Um grande absurdo isto. Uma vergonha, tanto para a Educação quanto para os cidadãos (poucos realmente se importam.

    ResponderExcluir