Não está acontecendo numa galáxia tão, tão distante. Está
acontecendo aqui mesmo, na cidade do Rio de Janeiro. No olímpico reduto
fluminense. Alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental de oitenta
escolas – cujos (ir)responsáveis derem autorização – passarão a ter aula de
religião uma vez por semana. Para os outros, haverá uma chamada "educação
para valores", que tratará de temas ligados à ética e à cidadania.
Professores católicos, evangélicos, espíritas, entre outros,
serão contratados pela prefeitura para atender à incomensurável demanda por
desenvolvimento espiritual dos cidadãos cariocas.
E aí me pergunto, Pai nosso que estais no céu: até que
ponto o Estado tem o direito de utilizar o dinheiro de seus contribuintes –
inclusive de ateus e agnósticos – para financiar a catequese de nossas
criancinhas? Não existirão prioridades menos etéreas e celestiais, levemente
mais chãs e urgentes, nesta terra adorada? Não terão um uso mais útil e
necessário os impostos recolhidos do que o investimento nas almas dos filhos
deste solo?
Talvez o saneamento básico daquela comunidade abandonada
por Deus; o tratamento daqueles dependentes de crack esquecidos por todos os
santos e beatos; o asfaltamento daquela rodovia ignorada pelo espírito de luz
mais evoluído; a reforma daquele hospital desprezado pelos orixás mais
poderosos; a despoluição daquele córrego deixado à própria sorte pelas
entidades do mais alto escalão divino.
Cá entre nós, se a esta altura do século 21 ainda se permite
o emprego de recursos públicos no maravilhoso mundo da Carochinha ou, levando
um pouquinho de fé, no fantástico território dos seres invisíveis, por que afinal
não se cogita logo a admissão de docentes com especialização em midi-chlorians, mestrado em filosofia
sith e doutorado em sabedoria jedi?
Texto fantástico, conseguiu fazer uma ótima critica companheiro.
ResponderExcluirNossa que absurdo, que retrocesso. Parece coisa do Bush.
ResponderExcluirUm grande absurdo isto. Uma vergonha, tanto para a Educação quanto para os cidadãos (poucos realmente se importam.
ResponderExcluirÓtima Crítica, Fábio! Parabéns.
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