Faz uns cinco minutos que meu queixo caiu. Acabei de saber,
graças ao sempre bem informado Jaimito Porteiro, que Seu Ramon e Dona
Florinda, vizinhos meus de porta e tantas datas, estão se
divorciando. Vinte e seis anos de união, quatro filhos, bodas de prata
comemoradas no salão nobre do Tijuca Tênis Clube, fotos felizes sobre aquele
bufê cafona da sala de jantar.
E agora fico me perguntando o que teria provocado a
separação. Pareciam tão feitos um para o outro. Como Roberto e Erasmo, Lennon e
McCartney, Tom e Vinicius, Batman e Robin, Tom e Jerry, Piu-Piu e Frajola, Adão
e Eva, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Tarcísio e Glória, Didi e Dedé, Evo e
Chávez, Cabral e Paes.
Quem sabe apareceu uma Clô na vida dele. Ou um Frederico na
vida dela. Ou um Frederico na vida dele. Ou uma Clô na vida dela. Ou uma Rosa
Rumorosa na vida dos dois. Não, acho que não. São muito tijucanos para admitir
uma terceira escova de dentes na suíte. Não topariam um ménage à trois. A não ser à
trois croissants – no Café Palheta.
Quem sabe surgiu uma dívida ou uma herança.
Dinheiro – ou a falta
de – pode quebrar a banca das melhores famílias. Não, também acho que
não. Seu Ramon foi funcionário do Tribunal de Contas por décadas; e Dona
Florinda, professora de matemática por... por que alguém resolve dar aula? E de
matemática? Eu, hein. O fato é que, de números, o casal entendia.
Quem sabe... tocou a campainha. Dona Florinda. Olhos
vermelhos, tadinha. Estava vendendo o tal bufê cafona. Sondei a razão que
a levava a se desfazer de peça tão singular. E ela contou que o marido, após
uma discussãozinha boba, jogou em sua cara ter aturado aquele monumento de mau
gosto mais tempo do que devia.
Meu queixo, caído, despencou. Por pouco não fiz uma oferta
pelo objeto. Cheguei a cogitar um cantinho para ele na sala. Da casa da minha
sogra.
Fiquei meio perdido lendo esse texto, é surreal??
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