Faz uma semana que conheci a Marilyn. E parece que faz sete
noites.
Eu caminhando na praia. Solão. A areia abarrotada de
famílias e outras tribos menos cotadas. Os franguinhos da padaria do Seu
Joaquim − livres, leves, soltinhos − vendo o mar pela
primeira e última vez. A farofa amilanesando os corpos fora de forma. O
salva-vidas afogando um pivete sem modos. O vendedor de camarão enxugando o
suor com guardanapos.
E a minha musa pulando ondinhas.
Não hesitei. Me aproximei dela com a pressa de uma
próclise. Sussurrei dois ou três versinhos em seus ouvidos − que
coisa mais linda, cheia de graça, seu balançado é mais que um poema do
Vinícius, a beleza existe. Nem precisei de rimas e estrofes. Aquele peixão caiu
na minha rede só por causa do amor. Era meu dia de sorte.
Arrastei-a pro meu cafofo e descobri que aquela garota
não era apenas mais uma: cozinhava um bacalhau como ninguém, passava meus
blusões como ninguém, lavava minhas cuecas e gravatas como ninguém, faxinava o
quarto e sala como ninguém, tocava flauta transversa como ninguém, contava
piadas como ninguém, amava como ninguém.
Me amava como ninguém.
Mas Marilyn tinha um senão: toda noite desaparecia. Sumia
no ar. Se escafedia − também com a pressa de uma próclise. Ontem
resolvi segui-la. Até um nightclub de nome nada, nada duvidoso: o Rainhas do
Deserto. Onde ela serve mesas e prepara drinks da moda travestida de João. Isso
mesmo. Jo-ão. Jota-ó-a-ó-til.
E o pior: estrela um musical que mistura pole dance,
striptease, figurinos pavorosos, iluminação tosca, canções bregas, roteiro e
direção pedestres chamado Quanto mais quente melhor. Um
freakshow involuntário, uma obra-prima do mau gosto, uma inacreditável
maçaroca − de fazer parecer Shakespeare qualquer teatrinho infantil
de quinta.
Ninguém é perfeito.
muito bom o seu blog!!
ResponderExcluirpassa la? opinioespromundo.blogspot.com.br
interessante o texto...legal a postagem...
ResponderExcluirQue graça teria se todos fossem perfeitos?
ResponderExcluirE você não poderia ter me feito rir mais, do Jota-ó-a-ó-til.
Que decepção. Mas amar também é se decepcionar né?