Surpresa
nenhuma o mercado ter festejado tanto a ação da Polícia Federal que conduziu coercitiva
e pirotecnicamente o ex-presidente Lula a um mero depoimento. O dólar caiu, a
bolsa subiu e a alcateia do capital comemorou o pregão bem-sucedido consumindo
um tríplex inteiro de champanhe numa praia em Paraty.
Sinais
dessa alegria toda dos grandes investidores já tinham sido sentidos com a
prisão preventiva do publicitário João Santana (vulgo marqueteiro do PT) e a
suposta delação do senador Delcídio do Amaral (que teria acusado Lula e Dilma
de interferir nas investigações da operação Lava-Jato).
Tudo
muito sintomático.
É
imensa a chance de o alinhamento quase mágico desses episódios inflar as manifestações
a favor do impeachment da presidenta, e ajudar o tal mercado a se livrar mais
cedo de um governo que, embora não cumpra nem de longe (para alívio dos donos
do dinheiro) a guinada à esquerda prometida no último pleito, titubeia em
pautas como a reforma da Previdência e a flexibilização da legislação
trabalhista – medidas que prejudicam os de menor renda, mas que, segundo os lobistas
da elite econômica, seriam imprescindíveis para estancar a crise.
Não
é difícil imaginar a ansiedade desses lobistas diante da possibilidade do fim
prematuro do mandato de uma presidenta cujo partido ainda mantém uma ala dita radical,
que (dizem) “sabota” sua governabilidade ao defender uma agenda mais progressista:
“populismos” como a taxação de grandes fortunas, a tributação de lucros e
dividendos, a defesa e ampliação de programas sociais, o fim das doações de
empresas a campanhas eleitorais, entre outros temas repletos de “ideologia” e causadores
de ojeriza em qualquer megacorporação que se preze.
Também
não é difícil imaginar a ovulação dos gerentes da desigualdade social frente à
oportunidade de ver aquele ex-sindicalista (que contribuiu para a saída de
milhões de brasileiros da pobreza extrema) simbolicamente morto e enterrado. O
simples aceno daqueles quatro dedos a uma nova candidatura à presidência é
pesadelo de onze entre dez políticos conservadores – muitos dos quais sócios
minoritários e embaixadores majoritários dos faraós da pirâmide social.
Os
acionistas do caos, no entanto, não deveriam se angustiar tanto com as
projeções em curto e médio prazo. Está a favor deles a disposição – justa, se
não fosse seletiva – de certos juízes em investigar e da mídia corporativa em
noticiar das pedaladas da Dilma aos pedalinhos do Lula. Mais: está a favor
deles o desinteresse cúmplice dessas mesmas esferas em relação a personagens
que se comprometem com multinacionais do petróleo a defender mudanças na lei de
partilha do pré-sal; ou que se unem a cartéis internacionais para fraudar
licitações de trens e metrôs; ou, ainda, que se associam a determinados grupos
para salvar milhões em paraísos fiscais a título de honorários por facilitar
privatizações.
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