Não
deve ser coincidência a manifestação a favor do impeachment da Dilma e contra a
corrupção (do PT) ter sido marcada para hoje: o mesmo dia em que, 39 anos
atrás, estreava na Globo o programa dos Trapalhões. De repente vamos reviver
uma experiência que resistiu até meados dos anos noventa – a de um humorístico antes
do Fantástico; não tão divertido,
claro, quanto o de Didi e companhia.
Verdade que a coreografia do hit “Seja patriota” é uma tentativa louvável de provocar riso – mas não chega perto das lutas e quedas ensaiadas do quarteto.
Que
os leitores dispostos a vestir a amarelinha nas próximas horas não me
interpretem mal: não há aqui intenção alguma de ridicularizar um movimento
democrático. É direito do cidadão sair às ruas para protestar a favor ou contra
o que ele quiser – mas é que me soa estranho exigir justiça em marcha patrocinada
por partido supostamente envolvido em superfaturamento de merenda escolar.
Ou
cujo líder máximo foi citado ao menos três vezes por delatores acusados de
fraudes financeiras. A propósito: quando é que ele vai pedir música para o
Tadeu Schmidt?
Piadas
à parte, o que realmente espero é que as micaretas marcadas para este domingo
ocorram em paz. Lugar de quem não concorda com troca de presidente fora do
tempo das eleições é em casa, vendo o Campeonato Inglês, o The voice kids ou uma maratona de sua série favorita. Vou
aproveitar a folga para colocar em dia os episódios de The walking dead. A Zombie Walk, eu deixo para os mortos-vivos.
Sei
que a tentação de botar um lenço vermelho e caminhar por aí contra o vento da
indignação seletiva é grande (pelo menos para os mais apaixonados). De fato, tem
sido difícil manter as estribeiras sob controle, especialmente diante de conduções
coercitivas desnecessárias, pedidos de prisão preventiva despropositados e
outras ações policialescas que só confirmam a tese de que a morosidade da
Justiça brasileira não é para todos. Nem a morosidade.
Mas
a hora é de muita calma. Qualquer tapa na orelha, puxão de cabelo ou mesmo
peteleco vai ser motivo mais do que suficiente para legitimar um pedido de
intervenção das Forças Armadas – intervenção inclusive já sugerida (por certos colunistas
do jornal que um dia apoiou um golpe militar) depois que petistas resolveram ir
às ruas demonstrar apoio ao ex-presidente Lula.
É
bom lembrar que os bolsonaros de plantão não jogam suas manchetes
sensacionalistas na fogueira à toa. Aquecem os ânimos de lado a lado à espera
de um incidente que lhes dê o álibi para sufocar – sob o pretexto de defender a
ordem – quaisquer manifestações que contrariem seus interesses e os de seus
mecenas. São como bushes aguardando o onze de setembro que lhes conceda carta
branca para invadir iraques e afeganistões.
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