Quantas
vezes não vimos chefes de Estado virem a público, depois de um atentado como o
que ocorreu na última sexta-feira em Paris, para anunciar fechamento de
fronteiras, controle mais rígido da imigração, aumento de gastos militares, ataques
preventivos a possíveis células terroristas nos confins do mundo, restrição de
direitos civis (como à privacidade) – tudo em nome da tal guerra contra o
terror?
O
presidente francês François Hollande não fugiu à regra e prometeu uma resposta
implacável aos extremistas da vez. Ponto para ele, segundo os analistas
políticos. Diz o manual de boas maneiras do grande estadista que o
representante-mor da nação – mais do que demonstrar equilíbrio e firmeza diante
do caos – deve assegurar aos seus compatriotas uma reação à altura.
Eles
precisariam disso para se sentir de fato protegidos.
Uma
reação à altura. Uma reação à altura. Repito para mim mesmo a sentença e só
consigo enxergar nela uma sentença: de morte. Quem realmente precisa de mais um
soldado, de mais um fuzil, de mais um tanque, de mais um caça, de mais um
míssil, de mais um drone a milhares de quilômetros matando ora terroristas, ora
inocentes – ora outros inocentes – para se sentir mais protegido?
Até
agora a chamada cruzada antiterror – da qual ouço falar desde os tempos em que
o Rambo fuzilava figurantes em nome da liberdade – não trouxe a paz tão prometida;
trouxe, sim, periódicos onzes de setembro para a humanidade. Do atentado em
Nova York para cá, cidades como Beirute, Londres, Madri, Mumbai, Tel Aviv,
entre tantas outras, já tiveram seus quinze minutos de sangue.
Sem
contar as que convivem diariamente com a violência de grupos extremistas, em
geral africanas e asiáticas, e que não despertam a mesma comoção mundial.
Um
episódio que sempre lembro nessas horas é a reação de Israel – uma reação à
altura, registre-se – ao assassinato de atletas seus por terroristas árabes durante
os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. O governo israelense convocou seu
serviço secreto (o Mossad) e deu a ele a missão de matar os responsáveis pelo crime.
Desnecessário dizer que a retaliação promovida há quase meio século não
resolveu os conflitos gravíssimos que ainda vitimam palestinos e judeus.
Por
isso, o discurso protocolar de Hollande – provavelmente a ser seguido por uma contraofensiva
bélica que só há de interessar aos fabricantes de armas – não me faz sentir nem
um pouco protegido, e menos ainda esperançoso de que essa espiral aparentemente
infinita de violência acabe um dia. Ele tão somente mantém as portas abertas
para novas explosões de barbárie.
Quem
dera o presidente francês fechasse de uma vez aquele manual e se inspirasse no
exemplo de seus concidadãos, que (numa iniciativa que ficou conhecida nas redes
sociais como #PorteOuverte) abriram suas casas para abrigar as pessoas que
estavam nas ruas durante os atentados e precisavam de um lugar seguro. Uma
atitude não só simpática dos parisienses – mas sobretudo corajosa.
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