A
poucos metros do carrossel, uma excursão de viúvas brasileiras flanava sua fé
antes de subir a escadaria da Sacré Coeur: ouvi a mais devota dizer que estavam
ali para pagar a enésima parcela dos pecados cometidos na Galeries Lafayette. Sei.
Bastou uma delas calcular que a via sacra até a basílica contava uns duzentos e
tantos degraus para que desistissem da penitência: tomaram o funiculaire.
Eu
tomei um atalho lateral até a igreja – cujo interior não permitem fotografar
nem com palavras. Só indo lá pessoalmente.
Depois
da visita ao templo, dei um pulinho na Place du Tertre, onde tive a impressão
de escutar mais inglês do que francês, o que não deixou de ser um alívio. O
problema é que as caricaturas desenhadas pelos artistas – todos com o physique
do Gérard Depardieu – resolveram saltar das folhas brancas para me assediar
feito aqueles ambulantes abarrotados de miniaturas da Torre Eiffel.
Merci
e fugi.
Saí
pela rua Norvins e só parei diante da escultura do homem atravessando o muro.
Para os desavisados, aquilo poderia ser mais um merchan da Marvel, quem sabe da
décima nona aventura solo do sexagésimo sétimo integrante dos Vingadores. Não.
Era apenas um tributo ao escritor Marcel Aymé e a uma de suas obras mais
famosas, Le passe-muraille – ou O passa-paredes, na versão em português.
Continuei
em frente até a avenida Junot e virei à esquerda na Villa Léandre, uma ruazinha
sem saída que é a porta de entrada para os meus sonhos mais bucólicos. Como não
me imaginar morando num daqueles sobrados cobertos de charme e sacadas floridas?
Talvez me imaginando numa cozinha tão minúscula, mas tão minúscula, que eu
tivesse de escolher entre mim e o micro-ondas.
Nem
pensar. Paris não merecia uma separação dessas, certamente traumática. Muito
menos o Montmartre. Ainda mais que, a algumas ruas dali, resiste um monumento
erguido justamente em homenagem aos casais apaixonados, o Muro do Eu Te Amo, onde
a frase surge escrita em quase todos os idiomas conhecidos – exceção feita àquele
resmungado pelos garçons parisienses.
Pode
parecer contraditório, mas lembrar desses espécimes típicos da fauna local me
deu fome. Desci a rua Lepic até o Café des Deux Moulins. Um crème brulée e a
conta.
Meia
dúzia de passos depois, estava eu no Boulevard de Clichy, diante do mítico
Moulin Rouge. Me falaram no café que a fabulosa Amélie Poulain e seu fiel anão
de jardim tinham se mudado havia alguns anos para o cabaré; lá estrelavam um espetáculo
de cancã digno dos tempos em que Toulouse-Lautrec e Baz Luhrmann o frequentavam.
Comprei um ingresso na primeira fila.
P.S.: Pode ser que minhas palavras continuem perdidas em Paris e arredores. Portanto, não se assustem se elas não flanarem por aqui nas próximas semanas. Au revoir.
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