Quem
nunca ouviu falar que notícia boa é notícia ruim? Que notícia ruim é que vende
jornal? Que tragédia é que faz o ibope subir? Basta a gente acessar os
principais portais da internet ou ligar a tevê diariamente para constatar que o
público tem sido assombrado (só para ficar no campo econômico) com uma crise de
proporções tsunâmicas – ainda que índices como inflação e desemprego mal tenham
superado a condição de marola.
Por
isso, não me surpreende nem um pouco que um exercício de utopia feito Tomorrowland, escrito e dirigido por
Brad Bird, esteja fracassando nas bilheterias. No Brasil, por exemplo, o filme
estrelado por George Clooney foi soterrado em sua estreia por um espécime
genérico do cinema-catástrofe (Terremoto
– a falha de San Andreas), já em cartaz havia uma semana.
Uma
pena. Num mundo que parece ter abraçado todas as distopias imagináveis – do
apocalipse zumbi ao planeta dos macacos, passando pela rebelião das máquinas e
da natureza –, o novo trabalho de Bird merece ser apreciado justamente por
recuperar uma visão otimista do futuro, por ousar acreditar que ainda é
possível o que muitos julgam impossível: salvar a humanidade.
Para
isso, a trama conta com uma protagonista – a jovem Casey Newton (Britt
Robertson) – não só determinada a evitar que uma plataforma de lançamento de
foguetes seja desmontada, mas também inconformada com o olhar pessimista
(realista?) de seus professores em relação ao destino do planeta. É
especialmente divertida a sequência em que eles a ignoram enquanto falam de
aquecimento global e afins.
Justamente
por jamais desistir do futuro, Casey é escolhida por Athena (vivida
com extrema sensibilidade por Raffey Cassidy) para impedir a destruição do
mundo paralelo que dá nome ao filme e, consequentemente, da própria Terra. A
elas se junta o inventor Frank Walker (Clooney), um homem desiludido que já
estivera em Tomorrowland nos anos sessenta, quando ainda era um garoto.
Se
não bastasse ser um deslumbre visual – seja pela recriação da Feira Mundial de
1964, seja pelos gadgets da casa onde Walker se exila por anos, seja pelo
design da tal Terra do Amanhã, com suas piscinas que desafiam a gravidade –, o
longa ainda oferece um roteiro que escapa da mediocridade como se usasse um
propulsor a jato; a um só tempo, ele encanta o espectador com as possibilidades
do futuro e o alerta para os paradoxos do presente, como o fato de vivermos
simultaneamente epidemias de obesidade e fome.
Além
disso, os roteiristas adotam uma estratégia invariavelmente elegante: a de espalhar
aqui e ali – com discrição – pistas sobre o que vai acontecer nas cenas
seguintes. Exemplo disso ocorre quando, instantes antes de Walker atravessar a
passagem secreta (ou cair na toca) que o levará pela primeira vez a
Tomorrowland, vemos de relance um conhecido personagem de Alice no País das Maravilhas.
Falando
em personagens conhecidos, outra ótima sacada é a “participação” de Júlio
Verne, Thomas Edison, Nikola Tesla e Gustave Eiffel (imagineers, diria Walt Disney) num momento-chave do filme, no qual
um famoso cartão-postal se mostra muito mais do que uma simples escultura de
ferro. A reação das pessoas nas ruas, registrando o espetáculo inusitado com
seus celulares, só ajuda a conferir verossimilhança à situação.
O
maior espetáculo, no entanto, fica para os minutos finais. Capaz de arrepiar os
que deixaram o cinismo do lado de fora do cinema, a sequência que encerra a
projeção estabelece uma rima temática que não deve passar despercebida aos
corações mais atentos (spoiler! spoiler!): os escolhidos da vez para habitar
Tomorrowland – gente de todas as partes do mundo – ecoam e de certa forma
realizam aquelas marionetes multiétnicas vistas no início do longa, numa das
principais atrações da Feira Mundial, chamada It’s a Small World.
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