domingo, 17 de maio de 2015

Viva o cinema brasileiro

Ao contrário do que o título possa insinuar, não tenho a menor intenção de vestir a amarelinha e tomar as ruas de frigideira em riste. O cinema brasileiro não precisa de interjeições fáticas. Precisa sim, e cada vez mais, de espectadores que se aproximem dele sem preconceito, que o conheçam além do último filme do Hassum ou da Ingrid Guimarães, que o vivam especialmente em sua pluralidade.

O que tenho visto, no entanto, é gente em princípio bem informada – ou com todas as condições de ser – regurgitando por aí os mantras típicos de quem jura que o cinema nacional se resume aos lançamentos cujo merchan aparece na novela das nove: filme brasileiro é tudo ruim, cada produção mais tosca do que a outra, os roteiros são fraquíssimos, só tem comédia fácil, a maior apelação.

(Suspiro.)

Diante de tais espasmos de desinformação, só me resta receitar alguns filmes a esses incautos devoradores de pipoca; filmes sobre os mais variados temas, dos mais diversos gêneros, realizados nos quatro cantos do país. Quem sabe após umas dezenas de sessões os desavisados não consigam se livrar do vírus do vira-latismo – é costume deles citar o cinema argentino e o americano como modelos a serem seguidos.

Como se ambos só produzissem obras-primas. Como se o primeiro se restringisse aos ricardos daríns e o segundo não despejasse por aqui seus crepúsculos e transformers.

De início, para abrir os caminhos e as cacholas, sugiro aos deformadores de opinião uma jornada à la Bye, bye, Brasil: que tal acompanhar as operações de um grupo de policias nas favelas cariocas (Tropa de elite, 2007)? o dia a dia de um operador de xerox em Porto Alegre (O homem que copiava, 2003)? as relações entre os moradores de um bairro de classe média na capital pernambucana (O som ao redor, 2012)? a trajetória de uma dupla sertaneja no interior de Goiás (2 filhos de Francisco, 2005)?

Se não bastar essa viagem no espaço, há a possibilidade de um passeio no tempo: por que não arriscar um retorno aos primórdios dos anos noventa com O homem do futuro (2011)? por que não dar um stop nos setenta para lembrar O ano em que meus pais saíram de férias (2006)? por que não recuar ainda mais – até os quarenta – para reverenciar o craque Heleno (2011) e o mito Madame Satã (2002)?

De volta ao presente, recomendo os bons, quando não ótimos (cada um no seu gênero), Bicho de sete cabeças (2001), Cidade de Deus (2002), Edifício Master (2002), Houve uma vez dois verões (2002), O homem do ano (2003), Separações (2003), Meu tio matou um cara (2004), Nina (2004), Redentor (2004), A máquina (2005), O maior amor do mundo (2006), O cheiro do ralo (2007), Mutum (2007), Saneamento básico, o filme (2007), Romance (2008), Tropa de elite 2 (2010), 2 coelhos (2012), Hoje eu quero voltar sozinho (2014), Cássia (2015) e Entre abelhas (2015) – só para ficar em alguns dos pouquíssimos longas nacionais a que assisti na telona neste comecinho de século.

Agora, se mesmo depois desse minifestival aquelas criaturas continuarem batendo panela contra o cinema brasileiro – ignorando sua riqueza e diversidade, ainda mais significativas se considerarmos as dificuldades de produção e distribuição –, aí entrego meus kikitos. É mais um entre os tantos casos de fobia sem cura que têm nos assombrado nos últimos tempos.

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