Ao
contrário do que o título possa insinuar, não tenho a menor intenção de vestir
a amarelinha e tomar as ruas de frigideira em riste. O cinema brasileiro não
precisa de interjeições fáticas. Precisa sim, e cada vez mais, de espectadores
que se aproximem dele sem preconceito, que o conheçam além do último filme do
Hassum ou da Ingrid Guimarães, que o vivam especialmente em sua pluralidade.
O
que tenho visto, no entanto, é gente em princípio bem informada – ou com todas
as condições de ser – regurgitando por aí os mantras típicos de quem jura que o
cinema nacional se resume aos lançamentos cujo merchan aparece na novela das
nove: filme brasileiro é tudo ruim, cada produção mais tosca do que a outra, os
roteiros são fraquíssimos, só tem comédia fácil, a maior apelação.
(Suspiro.)
Diante
de tais espasmos de desinformação, só me resta receitar alguns filmes a esses
incautos devoradores de pipoca; filmes sobre os mais variados temas, dos mais
diversos gêneros, realizados nos quatro cantos do país. Quem sabe após umas
dezenas de sessões os desavisados não consigam se livrar do vírus do
vira-latismo – é costume deles citar o cinema argentino e o americano como
modelos a serem seguidos.
Como
se ambos só produzissem obras-primas. Como se o primeiro se restringisse aos ricardos
daríns e o segundo não despejasse por aqui seus crepúsculos e transformers.
De
início, para abrir os caminhos e as cacholas, sugiro aos deformadores de
opinião uma jornada à la Bye, bye, Brasil:
que tal acompanhar as operações de um grupo de policias nas favelas cariocas (Tropa de elite, 2007)? o dia a dia de um
operador de xerox em Porto Alegre (O
homem que copiava, 2003)? as relações entre os moradores de um bairro de classe
média na capital pernambucana (O som ao redor,
2012)? a trajetória de uma dupla sertaneja no interior de Goiás (2 filhos de Francisco, 2005)?
Se
não bastar essa viagem no espaço, há a possibilidade de um passeio no tempo: por
que não arriscar um retorno aos primórdios dos anos noventa com O homem do futuro (2011)? por que não
dar um stop nos setenta para lembrar O
ano em que meus pais saíram de férias (2006)? por que não recuar ainda mais
– até os quarenta – para reverenciar o craque Heleno (2011) e o mito Madame
Satã (2002)?
De
volta ao presente, recomendo os bons, quando não ótimos (cada um no seu gênero),
Bicho de sete cabeças (2001), Cidade de Deus (2002), Edifício Master (2002), Houve uma vez dois verões (2002), O homem do ano (2003), Separações (2003), Meu tio matou um cara (2004), Nina
(2004), Redentor (2004), A máquina (2005), O maior amor do mundo (2006), O
cheiro do ralo (2007), Mutum
(2007), Saneamento básico, o filme (2007),
Romance (2008), Tropa de elite 2 (2010), 2
coelhos (2012), Hoje eu quero voltar
sozinho (2014), Cássia (2015) e Entre abelhas (2015) – só para ficar em
alguns dos pouquíssimos longas nacionais a que assisti na telona neste
comecinho de século.
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