Pareço
saudável, mas estou irrecuperavelmente viciado num programinha do Discovery
Home & Health: o Irmãos à obra.
Apresentado pelos gêmeos Jonathan (meio empreiteiro, meio decorador) e Drew
Scott (um corretor de imóveis), ele mostra os irmãos ajudando terráqueos como
você e eu a encontrar sua casa dos sonhos.
Todo
episódio começa com a mesma maldadezinha: a dupla leva os participantes da vez,
geralmente um casal, para conhecer o paraíso. Uma humilde residência no bairro
mais que desejado, com pé direito que arranha o céu, sala tamanho família –
família à Mr. Catra, é bom sublinhar –, cozinha gourmet, quatro quartos, closet
que é quase um quinto, banheiro com banheira, quintal que é praticamente o
Central Park.
E
um precinho que só cabe no orçamento do Donald Trump.
Daí
a casa cai e levanta aquela poeira de frustração. Nada que os brothers não
possam resolver. Não é possível comprar um cafofo pronto para morar? O (bom)
negócio, então, é procurar um imóvel mais barato e reformá-lo; pegar aquele
muquifo cheio de paredes e transformá-lo num espaço com menos divisórias, mais
integração.
É
o que Jonathan e Drew chamam de conceito aberto: a cozinha que abraça a sala de
estar que abraça a mesa de jantar que abraça a varanda que abraça o jardim...
Fico
imaginando como seria saudável – por permitir a entrada de mais luz e oxigênio
– levar essa ideia além do nosso endereço e dar uma recauchutada em nós mesmos.
Refazer nosso projeto de gente, redesenhar nossa planta baixa. Derrubar os
muros entre a intenção e a ação, o virtual e o real, o pensado e o praticado, a
saudade e o encontro.
Até
entre o salgado e o doce, se não for pedir muito.
Por
que não botar abaixo aquele paredão entre o azul-caribe na vitrine da Sonhotur
e o mergulho na poupança de cada trocadinho? Entre a bike na garagem e a bike
na rua? Entre as hashtags ecologicamente corretas e a coleta seletiva no seu
condomínio? Entre o livro por anos e neurônios planejado e a primeira página?
Entre a fotografia no porta-retratos e o selfie já, imediatamente, agoríssima,
com os amigos?
Custa
guardar umas moedinhas na caixa-forte e fingir que esqueceu a senha? Custa (não
tanto quanto aquela Dolce Custo que compraste há um ano e não usaste até hoje).
Cozinha a batata da perna pedalar na primeira semana? Cozinha, frita e ainda
passa na chapa. Dá trabalho separar as cascas de laranja das latinhas de cerveja?
Nenhum, se você largar a birita e beber mais água. É difícil achar as palavras
certas? Um bocado – mas o garimpo vale ouro. Missão impossível reunir a galera?
Não para o Tom Cruise que podemos ser. É só dispensar as desculpas: aqueles
dublês que contratamos só para não encararmos os grandes e pequenos precipícios
do dia a dia.
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