O
vento balançando as folhas das árvores é um clichezaço, mas costuma funcionar.
Faz a gente lembrar que existe uma força capaz de falar mais alto que a nossa
voz.
Mas
se for para começar com uma voz propriamente dita, tente a da Fernanda Takai, a
da Marisa Monte, a da Zélia Duncan. Uma canção em especial? Agora não me ocorre
nenhuma. Não importa. O que vale é ouvir qualquer verso que jorre de suas
gargantas. Pode ser ciranda cirandinha ou que seja infinito enquanto dure. Certeza
de que sairá da fonte livre de impurezas.
Depois
sugiro uma visita à sua mãe ou – na falta dela – ao melhor amigo chef de
cozinha que você tiver. Fundamental: que ela/ele seja sinatra em bolo de
cenoura com cobertura de chocolate. E que se divirta bancando a Palmirinha, a
Nigella, o Buddy. A ideia é passar uma tarde inteira degustando as notas que
tornam aquela receita caseira a nona de Beethoven.
Da
mistura dos ingredientes ao farelinho que não sobra no prato.
Na
volta para casa, o celular está liberado. Mas apenas para receber chamadas dos Beatles
e dos Stones. Cazuza precisando dizer que te ama? Vai, atende. Cássia enviando umas
palavras pequenas? Ouvido nelas. Seu Zeca querendo saber o que é caviar? Não
deixe o compadre sem resposta. Aquela cantada manjada do Wando? Finja que
acredita: você é luz, raio, estrela e luar.
Agora
vê se tira o fone quando, na saída do metrô, o rapaz do violino começar a
tocar; quando o porteiro te cumprimentar; quando o vizinho entrar no elevador
puxando aquela conversa de dois andares; quando a tia Chatilda ligar no seu
aniversário para repetir as mil felicidades que você sabe de cor; quando seus
amigos de adedanha lançarem um torpedo de saudade.
Quando
seu amor chegar do trabalho e contar que o dia, sabe-se lá por que lua, foi
igualzinho a todos os outros.
(Sei
que o mundo parece ter engolido a pílula do Dr. Caramujo e – tal qual a boneca
Emília – tagarelou a falar. Às vezes dá aquela vontade de baixar o volume. Ou desligar
e pronto. Não vou negar: o silêncio na frequência certa tem lá seus acordes. No
entanto, mesmo sujeito ao excesso de decibéis, prefiro deixar os ouvidos no
modo on na maior parte do tempo.
Escutar ainda é a melhor maneira de aprender.
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