Pare
o que estiver fazendo e corra até o cinema para ver Cássia, documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle. Não há
maneira melhor de comemorar o dia, a semana, o calendário internacional da
mulher. Leve a namorada, esposa, amante, mãe, avó, tia. Leve o namorado,
marido, amante, pai, avô, tio. Leve as amigas e os amigos. Leve o rex e o
louro. Leve, sobretudo, o coração.
Não
se contente com o que eu escrever aqui. Vão ser palavras apenas: pequenas.
Bem
menores que as de Maria Eugênia (esposa da cantora por catorze anos), Zélia
Duncan, Nando Reis, Oswaldo Montenegro e companhia ilimitada, que falam de sua
relação com a garotinha que não esperou o ônibus e foi à vida; a poeta que, à
sua maneira, aprendeu a amar; a intérprete que foi de Nirvana a Chico; a muié-macho
que de repente surgiu de vestido – grávida – e perturbou o sono dos rotuleiros
de plantão.
A
chama que ardia delicada nos bastidores e explodia vulcânica no palco.
Alternando
com equilíbrio depoimentos, inclusive da própria Cássia, e imagens do início de
sua carreira em Brasília, do Rock in Rio, do acústico gravado na MTV (entre
outras), o filme realinha a órbita de sua protagonista ao acompanhar não só a artista
capaz de demolir os fascismos do lugar-comum, mas também o ser humano sensível
ao vento de cada palavra.
Surpresa
doce saber que a decisão de suavizar a voz roqueira foi tomada depois de um
pedido do filho ainda pequeno: você grita, mãe. Quem canta mesmo é a Marisa
Monte.
Surpresa
maior são os caminhos percorridos pelos versos de “Malandragem” até encontrarem
a garganta certa. Num dos momentos mais divertidos do longa, Angela Ro Ro conta
por que recusou o convite de Cazuza e Frejat para interpretar aquele que viria
a ser o maior hit de Cássia: não era para mim esse negócio de garotinha cansada
com suas meias três-quartos.
Nenhuma
surpresa, no entanto, ver aquela
revista expelir na capa que a cantora morrera em razão de uma overdose de
drogas, bebidas e remédios. Laudos periciais do Instituto Médico Legal
provariam, após uma necropsia, que a causa da morte tinha sido um repentino
infarto do miocárdio. (Aqui o roteiro não podia ser mais atual e esclarecedor,
ao deixar com os seios de fora o sensacionalismo carniceiro de parte da mídia.)
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