É
só entrar nas redes sociais ou nas páginas especializadas em “entretenimento”,
principalmente aquelas cuja matéria-prima costumam ser decotes, bumbuns e
demais instagrans de celebridades, para constatar o quanto todos os seres (humanos
ou não) são superultramegafelizes – o que, por contraste, apenas confirma a
mediocridade da sua vidinha cocrete-com-guaraviton.
Quase
impossível não se deixar afogar pelas fotos sem filtro da Dani em Noronha, pelo
close indecente no petit gâteau do Bruninho, pelo selfie só-sorrisos da galera
do trabalho no níver do chefe, pela primeira aula de stand up paddle da tia
Mariquita, pelas férias da Anitta Popozuda no Valle Nevado, pelo
canil de um milhão de dólares que o craque Reymar comprou para o seu
pastor alemão.
De
repente o mundo virou uma pool party e só você não recebeu convite para
um mergulho.
Nessa
Disneylândia elevada à enésima potência, inundada de tanta beleza e
prosperidade, muitas vezes é ofensa grave compartilhar uma olheira que seja
diante do sol lindo – e artificial – que brilha lá fora. Logo surgem os
tataranetos da Dona Pollyanna (não sei se com todos esses éles e enes) vociferando
que você deveria ter dormido mais cedo ou caprichado no corretivo.
Ai
então da sua pessoa se exibir um bocejo de fadiga ao encarar, por exemplo, aquele
ônibus cheio às sete da matina. A resposta vem mais rápido que o motorista do
607: tirasse carteira ou comprasse uma bike. E os doutores da alegria não param
por aí. Saco cheio do escritório? Fizesse shiatsu ou pedisse demissão.
Restaurante caro? Levasse marmita ou começasse uma dieta. Calorão? Instalasse
um ar novo ou mudasse para a Sibéria. Indignado com o aumento da luz? Votasse
na oposição ou escovasse os dentes no escuro.
Só
não venha chorar suas carambolas na minha timeline. Para isso existe
psiquiatra.
Está
aí uma saída possível. Quem sabe um profissional ajudasse você a verbalizar em
poucos caracteres – os alegrinhos não curtem textos com mais de dois parágrafos
– que seu salário é a conta do chá, e ele não é um Earl Grey; que seu bunker
dista do escritório umas três São Silvestres; que shiatsu e demissão não
revelam os números da megassena; que marmita, só se a mamãe de quem deu a
sugestão preparar; que comida sem glúten e lactose é ainda mais cara que
restaurante; que o ar novo não cobre toda a extensão da Avenida Brasil; que a
Sibéria não tem biscoito Globo nem praia; que onde a oposição ganhou foi a
conta d’água que aumentou – e nem escovar os dentes no escuro dá mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário