Não
se preocupe o leitor que não gosta de futebol. Nem o que gosta. Jamais arriscaria
minhas canelas e palavras num campo tão venerado por tantos, ainda mais para
decifrar um enigma que até cientistas como Stephen Hawking sabiamente
ignoraram. Ouvi falar que ele preferiu se dedicar à origem do universo – um
problema anos-luz mais fácil de solucionar, reconheçamos.
O
offside aqui é outro. Tem a ver com dois bolas murchas que levantaram a
bandeirinha para mim bem no meio de partidas nas quais os times, até então,
praticavam o que se espera de adversários civilizados: fair play. O primeiro Bê
Eme, crítico de cinema, já vestiu o manto sagrado do Bonequinho Viu. O segundo,
como toda professora universitária que se preze, tem sua sala de troféus cheia
de títulos (acadêmicos).
Aos
fatos: o tal crítico compartilhou em seu Facebook um texto – digno de todas as
reverências, na opinião dele – de certa cronista com nome de vilã de novela. Um
texto que, só para variar, não apenas responsabilizava a presidenta Dilma pelas
grandes catástrofes da humanidade desde o Maracanazo, como ainda afirmava que
ela “estava metida até os cabelos no escândalo da Petrobras”.
E
lá fui eu – quase tão ingênuo quanto um assinante da Veja – entrar na área dedicada aos comentários para dizer que não
achava justo botar na conta do Executivo somente as más notícias: que se
listassem também as boas, como os recordes de produção alcançados pela empresa
e a conquista do OTC Distinguished Achievement Award, prêmio recentemente
concedido à petroleira por seu desenvolvimento tecnológico.
Cá
entre nós, eu achava era tremendamente irresponsável fazer uma afirmação tão
capilar quanto aquela sem provas. Mas isso eu não disse. Fiquei só nas boas
notícias. A reação do rapaz? Um block. Isso mesmo: um block. Ele podia ter me
respondido, ter me xingado (embora não fosse a atitude mais educada), ter me ignorado.
Mas preferiu me deletar junto com meu obs. Aparentemente, o espaço era restrito
a emoticons de aprovação.
Corta
para o Bê Eme número dois, que acusou de censura uma amiga após esta perguntar
no Face – em evidente tom de chacota – o que
levava uma pessoa a usar, no século 21, as palavras mister, ulteriormente, quiçá e supracitada. Como no caso supracitado, era mister eu dar meu pitaco:
censura? Por acaso ela proibiu alguém de falar ou escrever os vocábulos em
questão?
O
que veio ulteriormente, o leitor deve imaginar: outro block. Só que, dessa vez,
com requintes de covardia, quiçá de canalhice. A professora, diferentemente do
crítico, resolveu me responder: citando duas ou três linhas da sua gramática de
cabeceira. Mas, como eu estava bloqueado – e, portanto, impossibilitado de
acessar qualquer coisa que ela publicasse –, o que poderia ser um bate-bola
bonito tornou-se peleja de um time só.
(Só
soube que a doutora honoris causa em
jogo sujo não havia me ignorado completamente porque fui alertado por amigos.)
Não
discuto aqui o direito de cada um não
ler ou ouvir o que o outro tem a dizer. O blocks (não os blocs) são uma
conquista da democracia. Mas é que minha fé no ser humano sempre diminui ao topar
com marmanjos que seguem engatinhando nas relações (e redes) sociais. Pior
ainda quando se trata de marmanjos que – por lidarem com arte e educação – deveriam
ser mais esclarecidos e, consequentemente, mais aptos a conviver com o
contraditório.
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